Fique longe de Porto Alegre

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Há poucos dias um amigo que eu não via há muito tempo, morador de Salvador, Bahia, tocou o telefone para meu celular, e perguntou sem nem me cumprimentar:

– Pela primeira vez em muitos anos, estou pensando em ir até Porto Alegre, conhecer a cidade e te rever.

Eu pensei um pouco e fui logo respondendo:

– Não vejo razão alguma para vires a Porto Alegre, porque se existe uma relação de cidades que ninguém deve visitar antes de morrer, a Capital do RS deve estar incluída nela.

Meu amigo ficou escandalizado.

Porto Alegre transforma-se a cada dia que passa numa daquelas cidades da Fronteira Oeste do RS, demonstrando nas fachadas dos prédios, no cenário das praças e no mobiliário urbano, aquele sentido de dejá vu que assombra os visitantes desavisados, surpresos com o cenário de atraso e feiúra.

O que ainda salva Porto Alegre e o RS é a paisagem humana, esta sim, surpreendentemente franca, amistosa (depois de algum tempo) e de bons princípios.

Escrevo tudo isto, porque acabei de ler uma coluna da jornalista Martha Ribeiro, e no seu texto ela coloca exatamente a percepção que eu mesmo passei a ter da cidade:

Hoje eu caminhava pelo meu bairro e quase fui sugada por um buraco da calçada. Reparei nos fios de luz que se enroscavam entre os postes. Vi uma parede pichada, que é bem diferente de um grafite. Edifícios sem personalidade. Nenhuma provocação visual, nada de cor, humor e graça pelas ruas. E me ocorreu que um viajante desavisado das nossas atrações culturais poderia muito bem incluir Porto Alegre entre as cem cidades a evitar antes de morrer. 

Martha Medeiros tinha acabado de desembarcar de Miami.

A percepção que se tem de Porto Alegre, logo depois de viajar para a civilização ou até para cidades como Salvador, São Paulo ou Florianópolis, mas até mesmo Gramado, no RS, é exatamente esta.

E isto que a jornalista nem tocou na questão da insegurança pública.

Já nem sei há quanto tempo não dou uma volta a pé em torno do quarteirão onde moro ou que resolvo dar uma saída de carro à noite, porque a cidade foi tomada pelos bandidos, que nos abatem como gado em pé.

O Rio Grande acabou.

E Porto Alegre nem existe mais.

O que acontece na capital dos gaúchos é uma vergonha.

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O jornalista Políbio Braga é casado e tem três filhos. Ele tem mais de 50 anos de jornalismo, já que começou em 1962 no Diário Catarinense, em Florianópolis. Depois trabalhou também nos jornais Correio da Manhã e Última Hora, do Rio, revistas Veja e Exame e jornal Gazeta Mercantil de São Paulo, além dos jornais Zero Hora, Correio do Povo e Jornal do Comércio, de Porto Alegre.

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