Eleições e pós-eleições: Os desafios dos prefeitos | Por Germano Rigotto

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Há muitos aspectos a analisar depois do resultado das eleições deste domingo. Mas, inequivocamente, estamos diante de uma reorganização das forças políticas brasileiras. Mesmo que a renovação não tenha ocorrido na proporção em que muitos esperavam, o eleitor não deixou de procurar um novo tipo de liderança política. Ou, ao menos, deu claros sinais dessa vontade.

O cenário, devido ao pouco incentivo a novos quadros dentro dos partidos, não apresentou muitas alternativas. Porém, o cidadão, mesmo quando votou em nomes mais conhecidos, parece ter adotado critérios que o aproximassem do escolhido. Foi uma disputa muito mais racional do que em outras oportunidades, fruto também da descrença generalizada.

O voto partidário, definitivamente, sofreu uma derrocada. Claro que é possível fazer uma análise sobre o novo peso dos partidos brasileiros. Os resultados de agora já desenharam o cenário da eleição presidencial, inclusive. Mas, se fizermos uma avaliação mais detalhada do pleito, perceberemos que o eleitor buscou, na maioria dos casos, um indivíduo que o inspirasse ou representasse. Votou-se mais contra partidos do que a favor de algum deles.

Essa tendência, se sinaliza para um grande problema, também mostra caminhos para evoluções. Há um grande espaço para que as agremiações criem ou recuperem suas identidades. Quem fizer isso por primeiro, independente do campo ideológico, terá chance de amealhar mais apoio em torno de si, para além do voto meramente personalista que temos hoje.

De modo geral, foi uma eleição bastante apática – talvez pela diminuição da campanha de rua, mas muito pelo desinteresse do próprio eleitor. Nem mesmo o vínculo com as cidades mobilizou a sociedade a aumentar a participação e o envolvimento. O tempo mais curto aumentou ainda mais essa desvinculação, tanto que os índices de indecisos duraram até os últimos dias. Muitas pessoas desconheciam os nomes e as características do processo eleitoral. Foi uma eleição em que na maioria das cidades tivemos perto de 40% entre abstenções e votos brancos e nulos o que demonstra o desencanto da população com a classe política. O recado dado foi forte.

As regras que passaram a valer a partir deste pleito terão que ser bem avaliadas, a começar pelo financiamento restrito à doação de pessoas físicas. É um tema polêmico, que passará por um debate maduro no Congresso Nacional. Isso terá diminuído ou aumentado o famigerado “caixa dois”? De qualquer modo, é possível ter convicção de que a campanha realmente pode ser mais barata, mais curta e menos poluída visualmente.

Mas a eleição nem de perto é o principal problema. O que vem pela frente é que será o grande desafio dos eleitos. Os municípios terão muitas dificuldades com a queda de arrecadação e a progressiva concentração do bolo tributário em Brasília. E, em tempos de crise generalizada, dificilmente a União aceitará abrir mão de qualquer nesga da arrecadação.

As prefeituras são os entes governamentais mais próximos do cidadão. São elas que mais fazem, e normalmente com mais rapidez e probidade. Porém, diante do arcabouço que regula nosso pacto federativo, as cidades estão tendo cada vez menos autonomia política e, principalmente, financeira. Quase tudo de mais portentoso depende daquela surrada passada de pires em Brasília. Infelizmente, é a regra do jogo.

A questão, pois, é esta mesma: precisamos mudar justamente a regra do jogo. Caso contrário, continuaremos lançando líderes de expressão e bons gestores municipais ao cadafalso das impossibilidades da gestão pública das cidades. Claro que ainda muito pode ser feito, mesmo diante de tamanhas carências, mas não se pode perder a luta de fundo. Fazer bons governos locais, mas continuar lutando pelas grandes reformas nacionais.

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