BNDES: Hora de afastar as incertezas | Por Germano Rigotto

BNDES: Hora de afastar as incertezas | Por Germano Rigotto

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O noticiário das últimas semanas fez pairar nuvens cinzas sobre a República. Algumas delas, mais espessas, repousaram sobre o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). As investigações da Polícia Federal e a delação do empresário Joesley Batista expuseram a forma desvirtuada no aporte de recursos para financiar o crescimento da JBS. Ao mesmo tempo, a saída de Maria Silvia Bastos trouxe incertezas quanto à condução da instituição.

O primeiro caso denota o norte equivocado que guiou o banco na última década sob as gestões petistas. A política de formação dos “campeões nacionais” privilegiou alguns poucos grupos com um enorme volume de recursos. Somente entre 2012 e 2015, de R$ 321,3 bilhões em negócios aprovados pela instituição, R$ 168,7 bilhões foram destinados a apenas 57 companhias — ou seja, 5% das 1.160 pessoas jurídicas que firmaram contratos com o BNDES.

Com créditos fartos, os “campeões” se agigantaram, ocuparam espaços destacados em seus setores. Mas sofreram quedas tão grandes quanto seu crescimento. O caso mais exemplar é da operadora Oi, que solicitou a maior recuperação judicial de nossa história, com passivo de R$ 65 bilhões. Situação semelhante ocorreu com a LBR, da indústria láctea, com dívida de R$ 1 bilhão. Outra companhia, a Marfrig, acumula prejuízos de R$ 4,7 bilhões e precisou desfazer-se de ativos. Agora, a JBS, alvo de suspeitas, corre risco de seguir pelo mesmo caminho.

Que fique claro: o equívoco não está em financiar companhias dessa natureza. Uma instituição como o BNDES, com seu caráter de fomento, tem papel imprescindível como indutor do desenvolvimento. Todavia, sua atuação deve ser técnica, estratégica e descentralizada. O banco precisa servir a negócios de todos os portes, com especial atenção às micro, pequenas e médias empresas. Princípios como potencial econômico, eficiência e riscos devem guiar as decisões de financiamento, e não se o empresário é amigo do rei.

A gestão de Maria Silva seguiu esses preceitos, primando pela eficácia e correção na concessão de empréstimos, mas com uma postura vista como demasiadamente ortodoxa por muitas entidades empresariais e até mesmo por membros do governo. Causou preocupação sua repentina demissão. O presidente Michel Temer apressou-se em nomear Paulo Rabello de Castro para chefiar a instituição. Oriundo do IBGE, o economista indicou que manterá alto rigor na concessão de crédito e priorizará a retomada dos investimentos da indústria. É um caminho correto.

Os erros do passado exigem profundas e necessárias investigações. Mas não podem sobrepujar a relevância do banco para o desenvolvimento. Especialmente agora, deve-se reafirmar o compromisso estratégico e a credibilidade da instituição. É preciso afastar as incertezas, para que o BNDES cumpra com seu imprescindível dever: fomentar o crescimento sustentável e a geração de empregos.

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