O Brasil atual e a armadilha da liquidez | Por Dilmar Isidoro

O Brasil atual e a armadilha da liquidez | Por Dilmar Isidoro

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A instabilidade econômica que se estende desde muitos exercícios fiscais passados, põe em xeque a capacidade de o País superar rapidamente a crise de confiança instalada no mercado doméstico e postular a recuperação da credibilidade internacional. A crise econômica está densamente ligada à crise política. Muitos indivíduos mandatários nos poderes executivo e legislativo têm de prestar esclarecimentos à justiça por conta de evidentes indícios de fraudes nas gestões, corrupção e prevaricação do erário.

A intensa crise de identidade política causada por pessoas sem escrúpulos que se mantém no poder com benesses e prerrogativas há muito tempo, traz no âmago a indecência de discursos recheados de falácias e meandros que inexoravelmente colocam o País em tempo de incerteza que abala a confiança dos brasileiros e de investidores. Por conta disso, o mercado reage adiando decisões de consumo e investimentos, mesmo que a taxa de juros seja atrativa ao consumismo. A armadilha da liquidez é um termo técnico utilizado na academia para explicar a reação macroeconômica de um País que se recente de política econômica malfadada, durante os ciclos da economia real.

A doutrina da armadilha da liquidez foi criada por Keynes, um grande expoente da economia no século XX. Segundo Keynes, mesmo havendo a redução de juros esse fator que estimula a economia não consegue provocar a reação desejada, pelo contrário, existe o viés para a contenção de gastos do público que busca se proteger acumulando saldos monetários e, até mesmo, prefere investir em ativos reais (joias e demais objetos de valor adicionado), isto é, ativos não líquidos.

Também, uma elevada taxa de desemprego, pode inviabilizar a eficiência da política monetária porque a demanda é baixa devido ao alto nível de endividamento. O arcabouço da armadilha da liquidez pode ser mais significativo, quando a maioria dos ativos está ancorada em ativos não líquidos, por ser mais difícil a conversão desses recursos em ativos líquidos para haver novas aquisições.

Outra abordagem utilizada para justificar a armadilha da liquidez, diz respeito os credores que quando percebem que os indicadores econômicos apontam para tendência de aumento na inadimplência em empréstimos e contas de crédito, eles podem ser mais seletivos para evitarem o que os bancos chamam de default (não pagamento de dívidas). Por isso, os agentes que normalmente são capazes de ter crédito, passam a não atender os requisitos mesmo com altas taxas de juros que costumam estar assim, enquanto persistir a armadilha da liquidez e o risco de perdas financeiras.

Em descrição sucinta e com teor ilustrativo do cenário econômico, é possível visualizar a complexidade do sistema. Logo, para compreender tal dinâmica é necessário simplificar os modelos econômicos na forma de fluxogramas.

Ilustração do fluxo circular de renda e do produto idealizado pelo economista neoclássico John Maynard Keynes.

De acordo com a ilustração acima, cada segmento atua influenciando a oferta e demanda para definir o equilíbrio dos preços. Os preços se formam no mercado de bens e serviços com base nas composições dos valores adicionados, necessidades e desejos de consumo dos indivíduos. Este fluxo é básico, o desenho completo inclui o setor público agregando-se os efeitos dos tributos e dos gastos públicos, além das transações de mercadorias com o exterior. A recessão, segundo Keynes, é consequência da aversão dos consumidores ao risco devido às incertezas. Por terem tal percepção, eles decidem reduzir os gastos e aumentar a poupança até alvorecer tempos de bonança. Assim, por exemplo, se por algum motivo as pessoas demonstrarem pouca confiança no futuro, elas irão reduzir seus gastos e entesourar (guardar) mais dinheiro. Portanto, se as pessoas decidem reduzir os níveis de consumo, isso irá piorar a situação dos ofertantes (mercado de ofertas), que por sua vez também reduzirão seus gastos e custos fixos surgindo, então, um círculo vicioso.

A pouca confiança das pessoas faz com que elas gastem menos e entesourem mais dinheiro reduzindo a atividade da economia. É crível verificar que esta teoria representa bem o que é o Brasil hoje.

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