Crise política na Bolívia e as consequências para a América Latina | Por Dilmar Isidoro

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Mais uma crise política assola a América Latina, desta vez na Bolívia. O Presidente Evo Morales renunciou ao cargo, depois de sofrer enorme pressão popular. Ele estava no poder desde 2006 e tentava seu quarto mandato.

Mas, porque ele renunciou ao cargo? Para responder a pergunta, é importante conhecer as origens da trajetória política de Evo Morales. O político é um líder sindical com reduto na zona rural boliviana e prega a ideologia socialista. Após seu primeiro mandato, reelegeu-se pela via democrática, sua inspiração política na América Latina vem de governos de esquerda: Cuba, Venezuela, Uruguai de José Mujica e o PT de Lula e Dilma no Brasil, sendo que este último fez muitos investimentos na Bolívia, em Cuba e na Venezuela. O quarteto de esquerda manteve sua característica com políticas sociais e benefícios aos mais pobres, sob os olhares e desconfiança do mundo de que a democracia estaria ameaça com os governos socialistas. Com isso, os investimentos privados domésticos e internacionais, ficaram mais restritos.

Analisando brevemente esse quarteto, tem-se o seguinte: Cuba é socialista com sistema unipartidário, portanto, não admite oposição; na Venezuela, após o socialista Hugo Chaves, assumiu o ditador Nicolás Maduro; no Uruguai, embora pluripartidário, o socialismo permanece e no Brasil, o PT deixou o governo com o impeachment de Dilma. Com isso, a era PT governou o Brasil por longos 14 anos. A Argentina elegeu, neste ano, Alberto Fernández um Presidente socialista. Dito isto, voltamos o foco para a Bolívia comparando sua situação com a Venezuela.

A diferença pró Venezuela, é que o Presidente Nicolas Maduro tem o apoio incondicional das forças armadas do País. Diz-se que isso ocorre por que Maduro concede aos militares muitos poderes e altos salários, em troca da proteção e apoio de seu cargo. Já na Bolívia, Evo Morales não teve apoio das forças armadas e da polícia local, ao contrário, diz-se que o general comandante das forças armadas bolivianas, retirou seu apoio e sugeriu que Morales renuncia-se. Além disso, a polícia local passou a atuar ao lado dos manifestantes.

Todo esse imbróglio aconteceu por que Evo já havia solicitado permissão para concorrer a um terceiro mandato, no qual foi eleito. Mas, em 2017 alterou as regras do Tribunal Eleitoral de seu País para se candidatar a reeleições por tempo indeterminado. A crise política culminou, quando eclodiram denúncias de irregularidades na atual eleição presidencial. A OEA (Organização dos Estados Americanos) foi acionada para fazer auditoria na contagem de votos e constatou irregularidades irrefutáveis, inclusive, segundo a OEA, houve falsificações nas cédulas para favorecer a vitória de Evo Morales no primeiro turno.

O curioso é que todos os Países alinhados a esquerda usaram discursos comuns de apoio a Morales afirmando que houve “Golpe de Estado” dos imperialistas. Inclusive, o próprio Morales, quando renunciou, fez seu último discurso afirmando que foi vítima de Golpe de Estado.

Na Venezuela, o Presidente Nicolás Maduro, também acusado de fraudar a última eleição para permanecer no poder, fez discurso ao seu País para alertar a oposição para não se espelhar no levante ocorrido na Bolívia, pois isso não o faria renunciar.

Resta saber, como serão os desdobramentos nos governos socialistas da América Latina, a partir da restauração da democracia na Bolívia que, graças ao seu povo, não admite tirania e perpetuação no poder.

Diferente da retórica habitual, a ideologia socialista se opõe aos governos democráticos. O grande temor dos dirigentes socialistas na América Latina é que o levante ocorrido na Bolívia, possa ser um exemplo a ser seguido pelos povos governados pela esquerda.

Evo Morares recebeu asilo político no México concedido pelo Presidente Andrés Manuel López Obrador, também adepto a ideologia socialista.

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