Não há empresa que resista sem gestão. Essa obviedade nem sempre é assimilada facilmente no setor público, algo que acontece até mesmo no setor privado. Muitos veem a gestão como uma ferramenta ocasional, espécie de poção mágica ou fórmula para ganhar prêmio e reconhecimento. Na verdade, é o trabalho cotidiano e permanente de gerenciamento, acompanhamento de resultados, fixação de metas, motivação da equipe e controle minucioso dos mais diferentes aspectos, especialmente do custo.
Uma organização pode dar errado mesmo quando tem gestão. Isso porque muitos fatores não dependem do administrador, senão que do mercado e de outros elementos externos à sua vontade. Todavia, quando essa cultura não está presente, a depreciação é inevitável. Diante de uma crise, tal diferença é ainda mais palpável. Somente empresas sólidas e bem administradas conseguem atravessar e sobreviver a turbilhões econômicos. Algumas inclusive saem mais fortes.
A Petrobras, durante muito tempo, foi considerada uma ilha de boa governança no setor público. Muito se disse sobre a excelência de seu time e o foco em sua finalidade, o que lhe garantiu respeitabilidade interna e externa. Seus investimentos passaram a figurar como fatores de indução do desenvolvimento brasileiro. O desempenho era comprovado não apenas no balanço contábil, mas no visível acerto de suas estratégias de expansão.
Há alguns anos, entretanto, a gestão da empresa entrou em processo de degradação. Em vez considerar a expertise na área, os cargos de ponta passaram a ser preenchidos com critérios meramente políticos. Não que políticos estivessem proibidos de exercer tais funções, mas seria exigível um mínimo de conhecimento – o que deixou de ocorrer. E não foi apenas isso. Esses postos, mesmo quando ocupados por técnicos e quadros de carreira, eram predestinados para enriquecimento individual e financiamento partidário ilícito. Corrupção programada, portanto.
Eis que a grande empresa pública do Brasil, infelizmente, se transformou num verdadeiro lodaçal – a palavra é forte, mas cabível. A teia de desvios que se formou foi de tal ordem que conduziu a Petrobras à beira do precipício. Aos poucos, com a Lava Jato e outros processos de investigação, surgiram escândalos inomináveis. Mais do que perder a reputação conquistada, amargou um prejuízo de quase R$ 37 bilhões no último período do ano passado. Caíram também os investimentos e o valor no mercado.
Em maio deste ano, assumiu a nova direção da estatal, com o presidente tendo carta branca para montar sua diretoria, sem maiores interferências ou repartições partidárias. A missão é recuperar a imagem e, principalmente, os resultados da Petrobras.
Pois bem, os primeiros frutos começaram a aparecer. É cedo, é pouco, mas a empresa já apresentou um lucro líquido de R$ 370 milhões no segundo trimestre do ano. O valor ainda mostra uma queda de 30% na comparação com o mesmo período do ano passado, mas é o primeiro resultado positivo depois de três trimestres de prejuízos bilionários. Mais do que números imediatos, melhora o horizonte. Ao mostrar que retomou seu rumo, as forças para sair da crise aumentam consideravelmente, a começar pela credibilidade.
Claro que, também nesse caso de melhora, houve a incidência de fatores externos. O preço do petróleo no mercado internacional aumentou no último trimestre e o real se recuperou frente ao dólar. Mas a empresa fez a sua parte, focando na diminuição de custos, aumento da produção e mudança no portfólio. Houve uma racionalização em diversos setores da corporação. Foram vendidos ativos externos, como no Peru e na Argentina. A casa, ao que parece, está sendo recolocada em ordem.
É apenas o começo do caminho, mas esses indicativos são fundamentais. O que importa, para além da sanidade da empresa, é fazer com que tudo isso sirva de exemplo. Não se deve brincar com o que é sério. Um patrimônio nacional, como a Petrobras, não pode ser relegado à condução de interesses partidários – ainda mais com finalidades escusas. Isso vale para toda e qualquer empresa pública, seja ela autarquia, sociedade de economia mista ou afim. E isso não significa subjugar a política, mas elevá-la. O setor público não pode abrir mão da boa gestão, o que inclui probidade e conhecimento.
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