O dado é que 30% das diabéticas tipo 1 em algum momento desde o diagnóstico da doença vão apresentar sintomas de Disbulimia. Acredito que este índice seja bem maior, apenas não é conhecido e divulgado. Ainda existem profissionais, e não são poucos, que nem sequer conhecem qualquer coisa sobre o assunto. As doentes (adoro esta definição) devem apresentar os sintomas, sofrer caladas e talvez algumas tenham passado a vida sem saber do que se tratava ou que outras diabéticas também apresentavam o mesmo distúrbio. Meninas que não são diabéticas quando apresentam algum distúrbio alimentar utilizam como descarte o vômito, diuréticos, laxantes.
São estas as formas de excreção que as escravas da magreza utilizam para manter o corpo fininho, magro, desidratado, enfim com aparência de modelo. A diabética tem outro mecanismo em mãos, sempre que a glicose altera e fica bastante alta, a célula já sem energia, sem açúcar (pois está todo na corrente sanguínea), começa a quebrar as moléculas de gordura do corpo para reverter em energia, isto, é claro, proporciona um emagrecimento rápido, passando primeiro por uma desidratação severa na tentativa do corpo de eliminar a glicose excedente pela urina.
O fato é que sempre que a glicose sobe, emagrece. Isto é uma arma na mão de qualquer adolescente ou jovens mulheres, em busca da magreza e o peso mínimo ideal. Imaginem, quanto mais se come, mais emagrece. A fórmula é esta , come , sobe a glicose e fica bem magrinha. Só que a diabética não precisa vomitar, tomar diuréticos ou laxantes, a forma de excreção é a descompensação da glicose. Pode-se comer demais, ou simplesmente não aplicar insulina.
Ainda tem a neura de que a insulina incha e por isso deixam de aplicá-la de propósito. É claro que na tentativa de normalizar a glicose, o corpo com a carga de insulina, volta ao volume hídrico normal e a cidadã neurótica acha que engordou e volta a descompensar a glicose novamente, isto se torna um círculo vicioso onde não conseguimos sair, as crises de compulsão alimentar se instalam, até pela fome causada pela hiperglicemia, as internações pela cetoacidose, as mentiras, de dizer que não sabem por que isto está ocorrendo, o comportamento é semelhante ao de drogado ou alcoolista, procura-se doces para ingerir escondido, coloca-se fora as doses de insulina, disfarça para não fazer o teste, fingem hipoglicemia para comer guloseimas, fazer muito xixi causa um prazer, é como ver toda gordura deixando teu corpo, só se para quando o hálito começa a ficar ácido, a fraqueza exagerada, a pele murcha e flácida pela desidratação, o sono já é incontrolável, como prenúncio de coma. Então se faz um pouco de insulina, é uma trégua, só pra enganar o organismo e voltar um pouco das forças, nada que vá devolver os kilinhos perdidos. E começa tudo outra vez, apetite já não é mais imenso, a acidose causa um enjôo horroroso. Mas aparentemente tudo está perfeito. Você está magra e linda ! Sem nenhuma disposição, seca por dentro e com candidíase, mas muito magra e isto basta.
Isto se arrasta por anos até que os órgãos que estão ali sendo silenciosamente corroídos começam a gritar e as complicações já são definitivas e irreversíveis, mas mesmo os rins avisando que vão parar, os olhos falhando vertendo sangue de tanto derrame na retina, nada consegue fazer parar ou voltar a si a consciência de que está morrendo aos poucos, a quem diga: “Mas eu vou morrer magra”. Claro, doce ilusão, vai estar inchada como um pacu por causa dos rins, com o braço calibrado da hemodiálise, a uretra destruída da sondagem, cega de um olho e do outro enxergando borrado, sem o controle do esfíncter pela polineuropatia, sem uma das pernas pela gangrena, as mãos já sem segurar nada, pois seus dedos estão como garras só que sem forças, o intestino e estômago não respondem mais, e fazendo algumas sessões de fisioterapia para recuperação de um AVC que vc teve aos 32 anos. Nesta altura do campeonato você estará magra, definitivamente magra querendo voltar 10 ou 15 anos atrás, e são só 10, não precisa muito mais que isso para provocar este estrago agindo assim e não buscando ajuda. Este problema é sério, não é muito conhecido, e precisa ser alertado e tratado com a devida importância.
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