BRINCANDO COM COISAS SÉRIAS | Por Percival Puggina

BRINCANDO COM COISAS SÉRIAS | Por Percival Puggina

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Enquanto ouvia o relato da avó coruja sobre as atividades do netinho, a memória disparava, braços abertos de saudade, para a minha própria infância. Lá estava eu, fazendo os mesmos experimentos caseiros aos quais o menino se dedicava, para encantamento da avó. Tal como eu, ele espalhava pela casa frascos e recipientes nos quais misturava os mais insólitos produtos que pudessem ser encontrados na despensa da família — creme dental e álcool de limpeza; graxa de sapato e creolina e coisas assim.

Lembro-me de que cada mistura dessas trazia consigo a expectativa de um avanço para a humanidade. Os insucessos não constituíam conhecimento perdido. Ao menos não para minha percepção. A conclusão era a de que misturar Leite de Rosas com loção pós-barba Aqua Velva não dava nada, exceto bronca.

Se a humanidade não caminhava assim, era assim que a minha experiência andava. Experimentar é, de fato, uma forma de conhecer. No entanto, tão certo quanto isso, e bem mais produtivo, é aprender do conhecimento adquirido antes de nós. E ir em frente. O desprezo por essa liçãozinha básica tanto leva aos vícios e suas dependências quanto afunda uma sociedade inteira por desconhecimento ou sob influência de informação desonesta sobre as condições necessárias à sua evolução positiva.

Nada do que venha a ser afirmado a seguir aplica-se ao Brasil, que não é culpado de nada, o coitado. É tão somente à sociedade brasileira que diz respeito. O Brasil não vota; somos nós, indivíduos brasileiros, que votamos. O Brasil não estuda ou deixa de estudar; somos nós, indivíduos brasileiros, que estudamos ou não. E somos nós, indivíduos, membros da sociedade brasileira, que vamos pela vida formulando experimentos muitas vezes infantis, em questões para as quais a história de outros povos e bons livros berram importantes lições.

Quando o século 21 já vai andando, embarcar em experiências socialistas, populistas, autoritárias, rupturas da ordem, ou em formas de “democracia popular” (sovietes), bem como submeter-se às imposturas do politicamente correto, significa adotar comportamento infantil. É esperar que travessuras possam produzir bons efeitos políticos, sociais e econômicos. Na mais benévola das hipóteses, é esperar que essas traquinagens não gerem consequências a seus autores e possam ser corrigidas por algum papai ou mamãe estatal que a tudo carinhosamente observa. Na mais malévola das hipóteses, os travessos são, justamente, o papai e a mamãe da cena política.

Crer que o diploma de conclusão de qualquer curso substitui o conhecimento que deveria ter sido adquirido ao longo dele é fazer um investimento no próprio fracasso pessoal. Experiência superada. Quando a Heritage Foundation classifica o Brasil como 118° entre 186 países no ranking das liberdades econômicas, acreditar que nossos problemas sociais são consequência do sistema capitalista é plantar pobreza para colher miséria. Com 56 pontos em cem possíveis, se cair seis pontinhos, o país entra no grupo dos que reprimem tais liberdades, como Argélia, Uzbequistão, Chade e, claro, ainda bem mais abaixo, Venezuela, Cuba e Coreia do Norte. Esse trinômio soa conhecido? Pois é. No viés oposto, escalando 24 pontos para alcançar os 80, chega-se ao topo do ranking, junto com as cinco nações que lá estão, padecendo as aflições do capitalismo — Hong Kong, Cingapura, Nova Zelândia, Suíça e Austrália.
Infelizmente não são poucos, na sociedade brasileira, os que, infantilmente, se deixam seduzir pelo discurso de supostas generosidades estatais e se confiam às mãos (íntegra do artigo pode ser lida aqui).

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