O Dia da Consciência Negra | Por Yeda Crusius

O Dia da Consciência Negra | Por Yeda Crusius

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O Dia Nacional da Consciência Negra no Brasil é uma justa homenagem a Zumbi dos Palmares, que de sua luta fez o símbolo da resistência de um povo contra a escravidão. A luta pelas liberdades e pela justiça continua, embora diferente, trezentos anos após a emboscada que o abateu. Ao morrer, em 20 de novembro de 1695, Zumbi se batia por liberdade; hoje, a primeira batalha travada pelo negro brasileiro é pela igualdade, é por se manter liberto numa sociedade injusta e desigual.  

As estatísticas evidenciam essa triste característica da nossa sociedade, sejam elas de escolaridade, de salários, de renda, de longevidade, de violência. No mundo das estatísticas as mais chocantes são sobre as mortes violentas. O Brasil é o sétimo país que mais mata crianças e adolescentes no mundo, segundo dados de um novo relatório divulgado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF). Matamos mais aqui do que no Afeganistão em guerra. O Atlas da Violência, divulgado no dia 4 de junho de 2017 pelo Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mostrou que mais de 30 mil jovens são assassinados por ano no país. Desse número assustador, o total de homicídios de negros foi quase 2,5 mais alto do que o de não negros em 2015. Os diagnósticos são bastante conhecidos, pois o círculo vicioso da reprodução da desigualdade recai pesadamente sobre as negras e os negros, e entres estes sobre as crianças, os adolescentes e os jovens. 

É preciso pensar nesses jovens que estamos perdendo para a violência das ruas, e investir mais do que nunca em políticas públicas integradas, que possam reduzir comportamentos violentos desde a primeira infância. Educar nossas crianças e adolescentes em uma cultura que inclua os diferentes, entenda as diferenças e valorize a paz é essencial. São muitos os caminhos e, enquanto os trilharmos, estaremos honrando a memória de todos os que lutam e sofrem, simbolizados por Zumbi, mostrando que ao conhecermos melhor nossa realidade, buscar transformar a cultura da violência em cultura de paz nunca é em vão. 

Em meio a tantas estatísticas negativas que retratam o crescimento da violência em nosso país é bom celebrar o grande escritor João Guimarães Rosa, que teve o cinquentenário de sua morte lembrado neste domingo, 19 de novembro. Guimarães Rosa disse: “A gente não morre. Fica encantado”. Zumbi dos Palmares ficou encantado, pela gigantesca dimensão que sua luta, encerrada há exatos 322 anos, alcançou no escrever-se a nossa história. Outros vieram antes, outros depois de Zumbi, mas que através de sua memória, honrada sempre, a consciência que se forma todos os dias possa ir escrevendo uma história de avanços necessários nessa nossa cruzada civilizatória. 

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