Perspectiva de usina em Porto Alegre para gerar energia, a partir do lixo sólido | Por Dilmar Isidoro

Perspectiva de usina em Porto Alegre para gerar energia, a partir do lixo sólido | Por Dilmar Isidoro

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A gestão dos Resíduos Sólidos Urbanos (RSU’s), chamado de lixo urbano, sempre trouxe desafios à humanidade. Lixões e aterros sanitários são soluções paliativas para eliminar os rejeitos. Os espaços para aterros sanitários e lixões são limitados e causam impactos negativos à natureza.

 

A gestão dos RSU’s é questão problemática desde meados do século XX, quando o consumo de bens aumentou e os resíduos cresceram de forma exponencial. Conforme a Associação Brasileira de Recuperação Energética de Resíduos (ABREN), os rejeitos orgânicos depositados em aterros e lixões causam severos impactos ao meio ambiente e aumentam o volume de Gases de Efeito Estufa (GEE). A emissão do Gás Metano (CH4) chega a ser 25 vezes mais nocivo do que o Gás Carbônico (CO2), isso equivale a 3% da emissão de GEE na atmosfera. Ainda, há o risco de contaminação dos recursos hídricos e, por conseguinte, redução da água potável disponível no Planeta.

 

Devido ao enorme volume (quase metade dos RSU’s são de Países emergentes) os resíduos orgânicos precisam ter gestão adequada, já que a mudança global de comportamentos, o crescimento populacional, a urbanização e as mudanças climáticas, têm contribuído para tornar essa questão complexa, devido ao esgotamento dos recursos naturais. Mas, a indústria moderna e a tecnologia, podem transformar o lixo em insumo e gerar energia renovável.

 

Segundo a ABREN, a América Latina e o Caribe, juntos, têm uma das maiores taxas no mundo, quando o assunto é urbanização e densidade populacional. Estima-se que 500 milhões de pessoas vivem nas cidades nessas regiões, isso equivale a 80% da população. Entre os problemas causados pela densidade de população, têm-se a mobilidade, segurança, saúde, bem-estar, saneamento e gestão adequada dos RSU’s. Essas mudanças se devem as novas culturas e a diversificação de consumo. Desta fração, cerca de 50% dos RSU’s são resíduos alimentares e materiais de origem orgânica.

 

A análise do panorama dos resíduos sólidos no Brasil do biênio 2018/2019, feita pela Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE) é preocupante. Em 2018, o Brasil produziu 79 milhões de toneladas de lixo. Fonte: ESTADÃO em 19 de novembro de 2019. Por: João Lara Mesquita.

 

É perfeitamente possível transformar o que é ruim em algo excelente para minimizar custos e os severos impactos ambientais. A partir do lixo sólido, e possível produzir importantes subprodutos como: energia elétrica e térmica, combustíveis e fertilizantes. Isso é energia renovável. Outro problema crônico pode ser resolvido, me refiro ao lixo hospitalar que devido a sua característica infecciosa e de contaminação, pode ser incinerado e gerar energia.

 

Conforme ABRELPE, do total de 79 milhões de toneladas de Resíduos Sólidos Urbanos produzidos em 2018, apenas 4,0% foram reciclados e enviados à compostagem (reciclagem biológica para produção de adubo orgânico). Cerca de 60% foram enviados para aterros sanitários. O resto foi despejado em lixões em mais de 3.350 Municípios brasileiros. Desde agosto/2014, despejar resíduos em lixões é crime ambiental, sujeito à multa de até R$50 milhões, segundo a legislação vigente.

 

Diante do cenário de ameaças ao meio ambiente, muitos Países ricos criaram métodos e tecnologias para lidar com a gestão dos resíduos sólidos. Hoje é possível reciclar muitos materiais que podem ser reaproveitados nas indústrias e o comércio.

 

Novo conceito mundial para tratar o lixo

 

Aumentou a compostagem que é a reciclagem biológica para produção de adubo orgânico para aproveitamento energético. Surgiram as usinas Waste-to-Energy WTE (Resíduos em Energia – WTE) para gerar energia elétrica, a partir do tratamento térmico de resíduos orgânicos e inorgânicos. A implantação de usinas desse tipo, tem sido a solução em vários Países para o destino dos RSU’s não aproveitados no processo de reciclagem ou compostagem.

 

Com o aumento da população mundial urbana, cresce a quantidade de resíduos e lixo. Aa Europa, os EUA, a China, o Japão entre outros País, fazem do WTE uma prioridade nacional para tratar os resíduos e o lixo. A energia elétrica gerada pelo lixo, contribui para manter estável o sistema elétrico. Atualmente existem mais de 2.400 usinas WTE’s no mundo, onde 90% são para tratamento térmico com tecnologia para incineração por combustão em grelhas móveis.

Fonte: Associação Brasileira de Recuperação Energética de Resíduos – ABREN.

 

Lixo: de problema a solução energética

 

São muitos os fatores que potencializam o uso da recuperação energética. A adoção de instrumentos regulatórios são propulsores para adesão deste sistema, além do alto retorno financeiro aos investidores. Pois o payback (retorno do investimento), em média, se dá entre 04 a 05 anos.

Figura ilustrativa de parte dos procedimentos para transformar o lixo sólido em energia renovável.

Nos EUA, as indústrias WTE’s surgiram na década de 1960 para preservar o meio ambiente substituindo os lixões. Esse conceito se fortaleceu na década de 1970 dada à necessidade de haver recursos energéticos alternativos, devido à crise do petróleo. Naquele tempo, se pensava que a energia vinda do petróleo seria mercadoria escassa e os preços continuariam subindo. Em meados da década de 1990, a União Europeia reconheceu a importância do impacto da gestão dos resíduos sólidos nas mudanças do clima. No Reino Unido cresceu a consciência ecológica, fato que favoreceu o surgimento de usinas WTE’s.

 

Lixo: de problema a solução energética

 

“As plantas WTE’s são fontes de geração de energia mais limpas que carvão, biomassa ou fósseis, devido aos modernos filtros com água, carvão ativado e películas instaladas”. Quem afirma é Yuri Tisi, Presidente da Associação Brasileira de Recuperação Energética de Resíduos (ABREN). “Essas usinas geram de 650 kW a 1.000 kW por tonelada de RSU, já os aterros sanitários com captura de biogás geram apenas 65 kW por tonelada de RSU.  Logo, são no mínimo 10 vezes mais eficientes, reduzindo a necessidade de gerar termoelétrica fóssil”.

Fonte: https://www.bwexpo.com.br/mercado- waste-to-energy-melhor-momento-no-pais/

 

O Japão criou uma Lei Básica em 1967 para controlar a poluição ambiental. Desde 1970 o País nipônico tem regras para o tratamento dos RSU’s. Lá, a reciclagem ultrapassa 20% do total de RSU. As plantas WTE’s em operações eliminam 114.000 toneladas/dia de RSU de um total de 37.822.620 toneladas/ano. Isso representa 83,38% de todos os RSU’s pós-reciclagem. Fonte: (Fonte: Associação Brasileira de Recuperação Energética de Resíduos – ABREN).

 

A inovação em benefício do coletivo

 

A implantação de usina deste gênero gera postos de trabalho e inclusão social, reduz os gases poluentes vindos da decomposição do lixo orgânico e reduz o número de aterros sanitários. O lado bom visível é a produção permanente de energia limpa e renovável. Esses são alguns dos predicados que se pode ter com a implantação de usina WTE. A ideia é impactante para a população de Porto Alegre que produz, em média, quase 02 mil toneladas de resíduos por dia, sendo que 56 toneladas são de recicláveis, o resto é lixo orgânico e rejeitos. No início das semanas o lixo cresce porque o consumo aumenta nos fins de semana e, portanto, cresce o descarte.

Fonte: https://www.sul21.com.br/caminhos-do-lixo/2020/

 

Dinheiro colocado no lixo

 

Qual o destino das cascas de frutas, verduras e legumes, das borras de café, das fraldas descartáveis, da erva mate e tantos outros rejeitos colocados em sacos de lixo e depois no contêiner ou na calçada em frente de casa? Os resíduos orgânicos produzidos em Porto Alegre, vão para a Estação de Transbordo (Lomba do Pinheiro) depois para o aterro sanitário em Minas do Leão-RS. Fonte: https://www.sul21.com.br/caminhos-do-lixo/2020/

 

Porto Alegre envia mais de 40 mil ton./mês de resíduos ao aterro, conforme Leomyr Girondi, Diretor da Cia. Rio-grandense de Valorização de Resíduos (CRVR), empresa responsável pelo aterro. O custo da Prefeitura com aterros em Minas do Leão supera R$30 milhões por ano. O contrato atual é para o período entre maio/2018 e março/2021. Além da Capital, mais de uma centena de Municípios enviam resíduos para Minas do Leão.

Fonte: https://www.sul21.com.br/caminhos-do-lixo/2020/

 

Todos os dias, cerca de 1.200 toneladas de lixo seguem para Minas do Leão. A viagem de100 Km leva o lixo para uma das unidades da Cia. Rio-grandense de Valorização de Resíduos. Deixar o lixo da Capital em uma das enormes crateras de Minas do Leão é muito caro. O custo diário, apenas com caminhões, é de R$ 80 mil.

Fonte: https://www.jornaldocomercio.com/_conteudo/2017/08/geral/580782-no-aterro-de-minas-do-leao-viagem-do-lixo-chega-ao-fim.html

 

 

O que poderia ser feito com R$30 milhões por ano?

 

Com essa quantia expressiva anualmente, é possível melhorar as estruturas e equipamentos das escolas Municipais, incluindo a educação infantil, melhorar a infraestrutura viária de Porto Alegre; melhorar o acolhimento de idosos em Porto Alegre; conservar melhor os prédios públicos Municipais; cuidar melhor do centro histórico de Porto Alegre e muitas outras benfeitorias.

 

O que pode ser reciclado?

 

Por exemplo: plásticos, alumínios, panelas, tampas de garrafas, arames, jornais, revistas, cartolinas, formulários, papelões e papéis não usados na higienização. Os vidros podem ser coletados e enviados novamente às indústrias. Esta consciência ecológica está longe de ser a realidade da Capital. É preciso criar a cultura de reciclar. Isso começa nas escolas com crianças. Em média, são produzidos 56 toneladas de resíduos recicláveis por dia em Porto Alegre. Deste total, só 6% são reciclados, segundo informações do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU).

Fonte: www.sul21.com.br/caminhos-do-lixo/2020/02/40-mil-toneladas-por-mes-o-caminho-do-lixo-organico-entre-o-descarte-na-capital-e-o-aterro-em-minas-do-leao/

 

Por não haver seleção adequada do que pode ser reciclado, combinado com o baixo preço pago, grande parte das garrafas pet, copos e embalagens de isopor, caixas de alimentos congelados, brinquedos de plásticos, plásticos e embalagens diversas, latas de alumínio e outros itens que poderiam ser reaproveitados, acabam indo parar no aterro em Minas do Leão. Fonte: www.sul21.com.br/caminhos-do-lixo/2020/02/com-separacao-incorreta-baixo-preco-de-venda-e-coleta-clandestina-porto-alegre-so-recicla-6-do-lixo/

 

Projeto de usina WTE pode ser realidade em Porto Alegre

 

Há muito tempo penso que Porto Alegre poderia ter uma usina WTE. Para minha agradável surpresa, percebi que um candidato a Prefeitura de Porto Alegre – Vereador Valter Nagelstein – tem em seu plano de governo este inusitado projeto. Sabendo disso fui verificar como pretende colocar isso na prática, pois sei que o setor público tem muito interesse nesse tipo de empreendimento. Outro lado bom é que a medida reduz o custo do lixo aos cidadãos, a economia pode ser realocada em outras necessidades da cidade, conforme dito anteriormente.

 

De acordo com o plano de governo do candidato a Prefeito de Porto Alegre, Valter Nagelstein, uma usina WTE passa pela elaboração de um “projeto de viabilidade econômica” que é o primeiro passo. Depois disso, busca-se a formação de uma PPP (Parceria Público-Privada), onde o Município cede a área para a usina Waste-to-Energy WTE e buscam-se investidores interessados, lhes apresentaremos o projeto que é grandioso e exige a formação de equipe multidisciplinar. O investimento vai depender do tamanho da indústria e da capacidade para gerar energia. Estima-se o investimento em R$300 milhões, sendo: R$60 milhões (20% do total) captado de investidores e o restante virá de financiamento de instituições externas como o Banco Mundial que têm interesse nesse tipo de iniciativa para as cidades. Também, o BNDES pode financiar o projeto. A única participação do Governo Municipal é com a cedência da área para montar a indústria. Estima-se que o tempo para início das operações, a partir do início das obras, seja de 02 a 03 anos. Com base em outras usinas em funcionamento pelo mundo, o payback (retorno do investimento) para os proprietários do capital, ocorre entre 04 a 05 anos.

 

De fato, esta é uma monumental notícia vinda de um candidato que tem se mostrado muito responsável em seu plano de Governo e seu histórico acumula expertises para promover gestão pública moderna e por resultados.

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