A cirurgia cardíaca brasileira atravessa uma crise sem precedentes em sua história no país. Fomos forjados por cirurgiões da estatura de Zerbini, Jatene, Braile e Junqueira de Moraes que construíram uma especialidade respeitada mundialmente tornando-a auto-suficiente e não dependente de tecnologias importadas e transformando-nos em quarto país em número de procedimentos. Criou-se um verdadeiro parque de indústrias nacionais a produzirem e exportarem válvulas, instrumentos, conjuntos de circulação extracorpórea, etc. Hoje a realidade está muito diferente. Em 2010 fizemos 102.000 cirurgias cardíacas. Em 2014 reduziu este número para 92.000. A cirurgia cardíaca pediátrica brasileira foi sempre considerada das mais avançadas do mundo com criações reconhecidas como a Cirurgia de Jatene para correção de um defeito cardíaco dos recém nascidos chamado Transposição. Hoje, dos 60 centros pediátricos brasileiros apenas 8 realizam todo o tipo de cirurgia em crianças, a maioria deles tendo sido desativado pelos hospitais pelo alto custo e insuficiente compensação pelo SUS. Nascem no Brasil anualmente 28.000 crianças com defeitos congênitos do coração, sendo que em torno de 23.000 necessitam cirurgia de correção já no primeiro ano. (Este número é o dobro de casos novos de câncer infantil a cada ano). Em 2002 fazíamos em torno de 8.000 cirurgias cardíacas pediátricas. Em 2014 apesar do aumento populacional este número caiu para pouco mais de 5.000. Vale dizer que mais de 80% das crianças sobrevivem ao procedimento e tornam-se adultos saudáveis. Pelo simples fato de que não há centros especializados em funcionamento em número suficiente, com UTIs sempre lotadas nossos médicos passam os dias a realizar escolhas absolutamente injustas de quem deve ou não sobreviver. Para completar o triste quadro e encarecer ainda mais os procedimentos, a ANVISA não permite reprocessar equipamentos que na Índia são reutilizados até 50 vezes. Há ainda o desabastecimento no país de medicamentos essenciais para realização de cirurgias como a protamina e a dobutamina que simplesmente sumiram do mercado sem explicações adequadas reduzindo ainda mais o número de cirurgias de adultos e crianças. Calcula-se em pelo menos 20% menor o número de implantes de marca-passos realizados no último ano no país por dificuldades orçamentárias dos estados e municipais.
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