Texto do dramaturgo irlandês Samuel Beckett e direção e adaptação de Luciano Alabarse fará parte da inauguração do Teatro Oficina, do Complexo Cultural Multipalco, a partir do dia 31 de março

Texto do dramaturgo irlandês Samuel Beckett e direção e adaptação de Luciano Alabarse fará parte da inauguração do Teatro Oficina, do Complexo Cultural Multipalco, a partir do dia 31 de março

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ESPERANDO GODOT  – De sexta a domingo, ao longo do mês de abril, às 19h. O elenco totalmente feminino será composto por cinco atrizes gaúchas

Motivos não faltam (mais uma vez) para celebrar a nova direção e adaptação para os palcos de Luciano AlabarseEsperando Godot. A peça fará parte da inauguração do Teatro Oficina, do Complexo Cultural Multipalco, a partir do dia 31 de março, sempre de sextas a domingos, ao longo do mês de abril, às 19h. O elenco feminino e glorioso será composto por grandes atrizes gaúchas – Sandra DaniJanaína PellizonArlete CunhaLisiane Medeiros Valquíria Cardoso. E o texto é do dramaturgo irlandês Samuel Beckett. Já quem assina os figurinos é Zé Adão Barbosa. Ingressos a partir de R$ 20. Venda de ingressos pelo site.

 

“Há aspectos teatrais em Esperando Godot que merecem ser repartidos com o público. E eu aponto essas razões para as escolhas/reflexões cênicas que proponho. Cada uma funciona como força motriz/gatilho para a encenação. Buscar a textura desse texto verdadeiramente desafiador é o que procuramos incansavelmente. Simples e complexo, o teatro de Beckett não é fácil”, explica Alabarse, diretor do espetáculo.

A peça se passa em região desértica, sem definições temporais ou geográficas. Uma árvore seca simboliza esse mundo estéril, onde os protagonistas revelam suas necessidades e agonias. Sem acontecimentos relevantes ou perspectivas de mudança, dedicam-se a passar o tempo esperando Godot, que ninguém sabe exatamente quem é, e que adia sucessivamente o encontro que poderia injetar futuro e esperança no caminho dos personagens. Esse encontro, sempre postergado e transferido, nunca acontece. O tempo não se altera. A vida permanece circular e repetitiva.

“Esperando Godot” é a peça mais conhecida do irlandês Samuel Beckett e estreou em um pequeno teatro de Paris, em 1953, mesmo ano do nascimento de Luciano Alabarse. Nessas sete décadas, o texto recebeu incontáveis estudos, encenações e resenhas.

SOBRE O CENÁRIO

A rubrica inicial do texto dá uma orientação imprecisa sobre o espaço onde se desenrola a peça: “Estrada. Árvore. Entardecer.” Os personagens estão imersos em uma região desértica, cortada por uma estrada abandonada. O espaço cênico, então, pede uma região árida. Muitos encenadores optam por um palco absolutamente vazio, onde a famosa árvore seca é o único elemento cenográfico. Essa escolha parece reduzir o alcance do texto, em especial se levarmos em conta o mundo distópico com o qual nos deparamos, seja na Europa pós- Segunda Guerra quer em 2023. Um cenário de restos, escombros, ruínas. Desértico sim, asséptico não. Essa ambientação leva em conta dados preocupantes da vida contemporânea: águas dos rios e dos mares poluídas, toneladas de lixo tóxico empesteando a natureza, desertos transformados em depósitos de resíduos e detritos (o deserto de Atacama, no Chile, abriga o maior lixão a céu aberto do mundo), a sujeira que nos cerca, o mundo à espera de amparo e soluções. Esse é o deserto que interessa ao diretor, que o texto inspirou a desenvolver. Os personagens estão perdidos em uma região geograficamente indefinida, rodeados de lixo. O texto de Beckett, mais que antes, pede um olhar que revele esse estado deplorável do planeta.

SOBRE A RELIGIÃO

Beckett era um ateu que manteve, durante toda a vida, forte relação intelectual com a Bíblia, com os ensinamentos e manuscritos dos Evangelhos. Mas não era um crente dogmático. Pelo contrário.  Beckett tinha quatro Bíblias em sua casa, uma delas em hebraico. E as estudava com legítimo interesse. Toda sua obra é perpassada por essas leituras bíblicas, fato muito pouco valorizado/aprofundado no Brasil. “Esperando Godot” tem inúmeros momentos explícitos onde o autor se utiliza de passagens dos Evangelhos. A parábola dos dois ladrões, Caim, Abel, Jesus, a Bíblia, a busca de salvação transcendental, gritos e pedidos de ajuda, súplicas… As citações recorrentes não são usadas como recurso anedótico ou comédia, mas para explicitar a angústia e a agonia dos vagabundos atirados na aridez do deserto, esperando, sempre esperando, resgate e salvação. O autor toma como referência inicial o Eclesiastes, Isaías, e outras passagens da Bíblia. O salmo 21, conhecido como o Salmo da Espera, citado em sua correspondência com amigos de vida inteira, musicado na África do Sul, e conhecido como “Jerusalema”, é usado como trilha, em momento de desânimo e desalento.

SOBRE AS VOZES

Uma cena impactante de “Esperando Godot” é aquela onde Vladimir e Estragon escutam “todas as vozes do mundo”. Não é uma metáfora, não é uma alucinação. As vozes da história humana continuam vivas, para além da morte física que as personificam. Estão presentes, reclamam atenção, gritam suas verdades. Os dois personagens estão cercados por essas vozes. Estamos todos cercados por elas. Como o autor esclarece, as vozes do mundo não querem reencarnar, encontrar corpos novos. Não. Querem apenas falar continuamente, ininterruptamente, recusam o silêncio, o esquecimento, a morte. As vozes da humanidade se fazem ouvir firmes e ininterruptas. Desde a primeira leitura, o diretor lembrou das milhares de vítimas dos genocídios que escreveram a História humana. O Holocausto. Os refugiados da Síria. Os trabalhadores escravizados da serra gaúcha. Os deserdados da Terra.

Karlheinz Stockhausen é um compositor recorrente nas encenações de Alabarse. A versão escolhida foi o primeiro registro de “Stimmung”, apenas vozes, gravadas de forma analógica e que se multiplicam, ampliadas, ininterruptas, sem instrumentos. O autor regravou, ao longo da vida, o repertório desse disco mais duas vezes, mas nada impressionou mais Alabarse do que aquela primeira e quase desaparecida versão. Pouquíssimas canções irrompem, como frequências indevidas, a exaltação das “vozes”. Jerusalema, criada durante a pandemia do covid-19, conhecida como o Evangelho da Espera (Isaías, 40;31) e “Felicidade”, de Lupicínio Rodrigues. Aparecem e desaparecem em meio aos gritos de desespero dos perseguidos do mundo.

FICHA TÉCNICA:
ESPERANDO GODOT

um texto de SAMUEL BECKETT

uma direção de LUCIANO ALABARSE

Elenco:

SANDRA DANI (Estragon) JANAÍNA PELLIZON (Vladimir)

ARLETE CUNHA (Pozzo) LISIANE MEDEIROS (Lucky)

VALQUÍRIA CARDOSO (Menino)

Diretora Assistente ÂNGELA SPIAZZI

Cenografia e Trilha Sonora LUCIANO ALABARSE

Figurinos ZÉ ADÃO BARBOSA

Iluminação MAURÍCIO MOURA E JOÃO FRAGA

Construção Árvore RODRIGO SHALAKO

Preparação Corporal ÃNGELA SPIAZZI

Design Gráfico JAQUES MACHADO

Operação de Som MANU GOULART

Operação de Luz JOÃO FRAGA E MAURÍCIO MOURA

Assessoria de imprensa AGÊNCIA CIGANA – CÁTIA TEDESCO E MAUREN FAVERO

Produção Executiva JAQUES MACHADO

Adaptação Texto LUCIANO ALABARSE

 

Uma produção ALABARSE PRODUÇÕES CULTURAIS ME

SERVIÇO:

Esperando Godot

Dia 31 de março, 1 e 2 de abril

Dias 7, 8 e 9 de abril

Dias 14, 15 e 16 de abril

Dias 21, 22 e 23 de abril

Dias 28, 29 e 30 de abril

Sempre de sextas a domingos, às 19h

Teatro Oficina, Complexo Cultural Multipalco (R. Riachuelo, 1089 – Centro Histórico, Porto Alegre)

Duração: aproximadamente 2h

Ingressos à venda pelo site.

Valores de R$ 20 (meia-entrada) e R$ 40 (inteira).

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