Um dos maiores erros cometidos nos últimos anos, na gestão da macroeconomia brasileira, foi o apequenamento do país frente ao comércio internacional. A maioria das decisões tomadas na área, infelizmente, foi conduzida por preferências ideológicas. A opção foi emparceirar com países politicamente alinhados, dando mais importância para a construção de um discurso global do que para os resultados práticos em termos de desenvolvimento. Um erro brutal.
Além disso, o Brasil apostou demais no Mercosul, um mercado que, na prática, ainda não deslanchou. Não que se devesse ter esquecido o bloco regional, mas o erro foi bitolar nossa perspectiva apenas nele. O Mercosul permite que seus membros só negociem acordos de livre comércio em conjunto. Ou seja, estamos amarrados por Argentina, Uruguai, Paraguai e Venezuela. Todo o respeito às nações irmãs, mas esse coletivismo chegou às barras da autoflagelação econômica.
Enquanto nações como Chile e Peru possuem mais de trinta acordos bilaterais, o Mercosul só celebrou três: com Israel, Palestina e Egito. As exportações para esses países correspondem, respectivamente, a 0,2%, 0,01% e 1% do total brasileiro. Tratados semelhantes não existem com os nossos grandes players. O Brasil, como um dos maiores produtores de alimento do mundo, não pode desejar tão pouco.
O resultado dessas escolhas, somadas à timidez histórica anterior, levou o país a ocupar a 25ª posição no ranking dos maiores exportadores entre os 162 países da Organização Mundial do Comércio (OMC). Isso é ainda mais dramático num período de recessão, como o que nos encontramos, quando o mercado doméstico não consegue absorver a capacidade de produção do país.
Na comparação com os vizinhos, nosso tímido avanço fica ainda mais visível. No Chile, por exemplo, os acordos comerciais dão acesso livre de barreira a 83% do mercado mundial, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI). No Peru, as empresas chegam a 74% do planeta. No México, a 57%. No caso brasileiro, nossos tratados nos levam apenas a 8% do comércio global.
Antes do período mais recente, já não vínhamos bem. A participação do Brasil no mercado internacional, nos últimos 40 anos, regrediu percentualmente. Foi de 1,18% em 1976 para 1,11% no último ranking da OMC, que mediu o ano passado. Muitos países ultrapassaram o Brasil, alguns quintuplicando a fatia no mercado global. O México vale novamente como exemplo: com os acordos e tratados multilaterais, passou de uma participação de 0,46% para 2,36% nessas quatro décadas pesquisadas.
Para mudar esse caminho, vamos enfrentar muitas dificuldades. Alguns países já estão na terceira geração de parcerias, gerando excelentes resultados. Vai ser difícil entrar no meio de acordos tão solidificados. Mas nunca é tarde para recomeçar. E a hora é a agora. Perdemos tempo – e como perdemos! –, mas muitas oportunidades poderão surgir a partir de um novo posicionamento. É nessa linha, a propósito, que tem se posicionado corretamente o ministro das Relações Exteriores do governo Temer, José Serra. Ele tem estatura e credibilidade para fazer essa inversão.
O setor produtivo brasileiro tem expertise suficiente para entrar na concorrência internacional, altamente competitiva. Basta que o governo desarme os gargalos que se materializam no Custo Brasil: juros elevados, impostos pesados, sistema burocratizado, legislação trabalhista defasada e logística insuficiente são algumas das condições que estão fazendo com que o produto nacional sempre saia perdendo.
O ajuste fiscal e a ampliação do comércio exterior, tendo como base reformas estruturantes, são duas das principais chaves para o país voltar a crescer e sair da crise. É só chamar – e permitir – que o Brasil produtivo saberá responde
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