Artigo – Um mês sem Pepe Mujica

Artigo – Um mês sem Pepe Mujica

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Artigo de Opinião – Por Milène Denise Rouiller Magariños

Neste dia 13 de junho de 2025 faz um mês da morte de Pepe Mijica. Esse foi um dos motivos que me levou a escrever esse artigo. Sempre gostei de política. Acredito que a política é a vida como ela é — não há chance de viver neste mundo sem ela, gostemos ou não. Também sempre fui mais de esquerda do que de direita, apesar de considerar que a corrupção não tem partido. Creio que a esquerda, na maioria das vezes, tem sido mais a favor do povo. No entanto, militar na esquerda de fato era algo que eu nunca tinha feito, nem pensava em fazer — até que apareceu o Pepe Mujica como candidato à presidência.

Lá no bairro da minha avó, havia um senhor que tomava conta dos carros na rua e era fanático pelo Pepe. Foi ele quem me convidou para fazer campanha junto com ele. No começo, eu me achava estranha naquele papel, já que era algo que nunca tinha feito, mas com o passar do tempo fui gostando cada vez mais e cheguei até a participar da fiscalização dos votos no dia da eleição.

À medida que os dias iam passando na campanha, minha fé nesse ser político ia crescendo, pois me dei conta de que ele era o único político com quem, pela primeira vez na vida, eu me identificava. Fazia com que eu acreditasse que um ser político era realmente capaz de fazer algo pelo povo — e não me enganei.

Nos anos em que Mujica foi presidente, tivemos conquistas como povo que nenhum outro presidente havia sequer cogitado. As taxas de desemprego caíram como nunca, além dos planos sociais realizados naquela época. Mas também houve leis impensáveis por milênios que foram implementadas por ele: a controversa lei de legalização da cannabis, que reduziu bastante o tráfico e regulou o consumo com uma qualidade superior à que existia até então. Isso fez com que o Estado não só ganhasse internamente, mas também externamente, ao exportar cannabis — um grande avanço para o país.

A lei do casamento igualitário também foi aprovada durante seu governo — importantíssima para muitos casais que se sentiam marginalizados e queriam formalizar sua união.

Também foi polêmica, como sabemos, pois nem todos concordavam, assim como a lei do aborto, que é uma legislação que até hoje salva vidas de muitas mulheres no Uruguai, oferecendo apoio e acompanhamento, realizando entrevistas e administrando uma medicação regularizada, eliminando toda a clandestinidade e violência do aborto tradicional, sem orientação, sem diálogo, sem um setor em que a mulher pudesse tirar dúvidas e realmente decidir com segurança.

Essas são apenas algumas das coisas que o Pepe deixou como legado para um povo que era muito conservador. Com essas leis, ele não apenas marcou a história — houve um antes e um depois na política uruguaia e no povo em si.

Não só fomos reconhecidos mundialmente por essas leis e pela simplicidade de um presidente que doava grande parte do seu salário ao partido e à construção de moradias, que andava de moto e depois no seu Fusca — foi muito mais que isso. Foi o orgulho de ter um presidente que realmente melhorou a vida de toda uma nação em muitos aspectos, e que, com isso, fez com que as pessoas mudassem sua forma de pensar, de se ver, de sentir que tinham direitos e que não eram mais marginalizadas por suas escolhas.

O povo uruguaio chorou — e grande parte do mundo também — no dia 13 de maio, porque ele foi alguém que nos marcou. Falava bonito, sim, mas também vivia bonito. Nunca quis morar na casa presidencial, usava terno mas não gravata porque não tinha outra como presidente eleito. E sempre, nos seus discursos e conversas, nos lembrava da verdadeira essência da vida: fazer o que gostamos e não viver por obrigação, nem correr atrás do dinheiro. Era o que ele fazia — nunca largou o campo nem seus ideais.

Sei que há pessoas que não gostavam dele, e muitos dizem que ele errou muito — pode ser. Acredito que o objetivo dele nunca foi ser perfeito. Sim, pode ter errado, mas tenho certeza absoluta de que foi quem mais acertou entre todos os presidentes que conheci.

*Jornalista uruguaia, colaborou com seu artigo. Por se tratar de um texto que traz uma opinião pessoal, o conteúdo não reflete necessariamente a opinião do veículo.