Perguntada se o ano havia terminado, dado o anúncio pela imprensa do adiamento do envio pelo Governo Temer das reformas trabalhista e previdenciária, respondi que não. A fila anda, a roda gira, e as folhinhas do calendário vão sendo viradas ao final de cada dia. Estava me referindo ao ano do calendário, quando o ano só termina no 31 de dezembro. Já em relação às tão necessárias e urgentes reformas aguardadas pelo país todo, sem as quais não se sai dessa triste situação que junta crise econômica ao desemprego, ambos amarrados pelo bilionário processo de corrupção em curso desde o primeiro mandato de Lula, iniciado em 2003, para essas reformas o ano já terminou sim. Não há sincronia entre o tempo do calendário e o tempo das decisões no mundo político. Para andar no Congresso, depois de recebidos, os projetos de reforma, inclusive o da reforma política, há todo um procedimento que para ser levado dentro das regras, da legalidade, e da construção política, passo a passo, necessita de tempo que não sobrevive ao virar a folhinha até 31 de dezembro. Não é à toa que se diz que no Brasil o ano começa depois do Carnaval.
Essa é uma coluna semanal, escrita na hora, escolher o tema é difícil, vejam como a última semana foi marcada nos últimos 20 dias por fatos que foram se seguindo em ritmo alucinante. Já maduros, processos só terminaram no ritmo do tempo político: o de impeachment, em 31 de agosto, o de cassação de Cunha, em 12 de setembro, o da coletiva do MPF denunciando Lula como construtor e comandante da Propinocracia brasileira – Lava Jato, dada em 14 de setembro. O que não foi fruto do processo político foi, no mesmo 14 de setembro, o fato da trágica e cheia de simbolismos morte por afogamento de Domingos Montagner – já ao final da novela, e que eclipsou os demais assuntos no meio. Afinal a novela, e em especial essa que se passa no real e concreto Velho Chico, símbolo da nação, a novela faz parte do cotidiano dos muitos milhões de brasileiros numa dimensão muito mais pessoal e próxima do que o mais “normal”. É pessoal e mexe com o coração e a emoção e o mágico como não o fazem as coisas da política ou dos políticos, o cotidiano da Petrobrás que só se reequilibrará daqui a 5 anos, e mesmo o roubo direto praticado nos fundos de pensão sobre os trabalhadores – mesmo que tudo isso afete diretamente cada pessoa que vive o mundo real.
Mas a vida das pessoas não é como uma novela, na qual o autor, atores e diretores podem imitar e cobrir de mágico o real, e até manipular o seu final, emocionando o telespectador. É por isso que é sempre tão difícil que através da política se consiga propor e conduzir as imprescindíveis reformas que construam uma sociedade mais justa, menos violenta, mais estável e desenvolvida. Mais feliz. Reformas se adia, o cidadão comum não as sente como coisa sua. Apesar da tristeza que a insegurança pública tem trazido ao cotidiano dos porto-alegrenses, gaúchos e brasileiros, fazer o que é preciso – uma política de segurança pública – gera tantas e tão díspares reações que torna muito difícil a sua prática. Como se a morte não fosse a de alguém que não está na novela, e sim ao seu lado, na sua rua, na sua realidade. Desafio.
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