A escolha da Organização Mundial da Saúde (OMS) do tema da saúde mental para marcar o Dia Mundial da Saúde, que foi em 7 de abril, não poderia ter sido mais apropriada e urgente. É imperioso falarmos de transtornos mentais, incidência e, principalmente, a falta de estrutura para tratar quem sofre de depressão, dependência, ansiedade e outros males.
A própria OMS, estudos consagrados pelas principais publicações cientificas e a experiência médica em hospitais, postos e consultórios renovam o alerta: 20% da população mundial vai enfrentar, em algum momento da vida, um transtorno mental. Só este dado deveria mobilizar gestores públicos e políticas de saúde. Mudanças em legislações e regulamentações acabaram por restringir tratamentos, sejam eles ambulatoriais ou hospitalares. Disso tudo, a maior violência é ignorar que cada paciente tem sua história, suas dificuldades e necessidades.
Muitas consequências, como suicídios, ou histórias de famílias destruídas, poderiam ser evitadas, desde que haja condições desse enfrentamento. É preciso colocar nas prioridades os cuidados com os principais transtornos – depressão, ansiedade, dependência a álcool e drogas e outras doenças potencialmente graves e crônicas como esquizofrenia.
O Brasil tem a maior taxa de incidência de depressão da América Latina – 10% da população vive com a doença, maior causa de suicídios. Além disso, 8 milhões de brasileiros são dependentes químicos. O problema também se verifica na hora de tratar os doentes. Levantamento Nacional de Famílias dos Dependentes Químicos (Lenad) apontou que 58% dos casos de internação foram pagos pelo próprio familiar, e 9% deles tiveram a cobertura de convênio. O tratamento em hospitais públicos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) foi citado por apenas 6,5% das famílias de usuários.
Outro dado acachapante: enquanto a população brasileira aumentou 40% entre 1989 e 2016, foram fechados quase 100 mil leitos psiquiátricos no País no mesmo período. De 120 mil vagas espalhadas pelo território nacional, vimos a estrutura despencar para 25.097 leitos. Como falar em cuidados se temos esta realidade, sem contar da insuficiência de serviços da rede ambulatorial, que incluem desde a existência de postos especializados (os CAPS), de médicos, de medicamentos e etc.
Diante disso, vai uma constatação para reflexão geral e busca de soluções. Transtornos mentais roubam um pedaço da sua vida, a desassistência rouba o resto.
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