O tempo em Porto Alegre e Região Metropolitana na segunda-feira foi assim, atrapalhando trânsito, derrrubando árvores, destelhando casas. Mas o título desta coluna pode valer para o sentido figurado de muitas coisas, como as das operações da polícia para combater todo tipo de crimes dos quais se sabe hoje mais do que nunca, de tão frequentes, volumosos e descarados são os crimes do Brasil recente. São eventos extremos, mas frequentes, volumosos e muito fortes.
Quem já viveu outros tempos no país, quando se teve rumo que não fosse a roubalheira em tudo que trata do uso do dinheiro público, mais o descaramento de ocupantes dos cargos públicos que são parte do aparelho desse crime organizado que continuam a fazer o mesmo – mesmo com gente graúda na cadeia, pois quem viveu aqueles outros tempos fica tão cinza e nostálgico quanto o tempo em Porto Alegre. Houve tempo em que se contruiu, em lugar de destruir como recentemente o que tão trabalhosamente foi feito antes para o caminho da estabilidade, do respeito mútuo, do desenvolvimento da sociedade. Houve tempo em que se separava para poupança um pouco da renda, por menor que esta fosse, para formar com orgulho pessoal (pois que fruto do trabalho) e cívico (nosso país já garante nosso depósito para garantir o nosso futuro). A caderneta de poupança era um símbolo do bem, até que o governo Collor passou a mão e congelou por dois anos, e dane-se se o dono precisava para doença, cuidar de nossos velhos, ou enfrentar o desemprego.
Mas do passado não se vive. Com o passado se aprende. Então o cinza do dia faz perguntar: o que estamos aprendendo desse nosso presente para que, com o que fizermos do aprendizado, tenhamos um futuro mais iluminado? Bem, se olharmos para as levas de migrantes que vieram formar este país, seja um busca de oportunidades, seja fugindo de alguma guerra, fome ou frio, saberemos duas coisas. A primeira é entender porque uma geração inteira de brasileiros está querendo fazer o caminho inverso, e ir para um lugar onde o respeito vigore, onde se possa andar nas ruas sem medo do próximo assalto. A segunda é que este ciclo, como todo ciclo na história humana, se esgota, e poderemos ainda compartilhar a construção de um ciclo melhor, que permita afirmar, como fazem os imigrantes: apesar dos pesares, valeu a pena.
Claro, porque é inevitável: a chuva, os raios e as trovoadas, e o granizo, vão passar, e nos cabe curtir o que vem depois deles. Se tudo se encaminhar bem, com esses roedores de presente e de futuro bem longe. É possível.
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