Não é pouca coisa o que está por acontecer no Brasil neste segundo semestre de 2016. Eu diria que é um momento decisivo da atual quadra histórica em que o país se encontra. Muitos aspectos da vida nacional se definirão ou terão um encaminhamento nas próximas semanas e meses. Há importantes decisões pendentes a serem tomadas.
A primeira e mais relevante delas é sobre o impeachment da presidente Dilma Rousseff. O Senado Federal, em acordo com o Supremo Tribunal Federal, anunciou que pretende concluir o processo de julgamento até os primeiros dias de setembro. A partir dessa decisão, portanto, o país saberá se Michel Temer se tornará presidente em caráter permanente, até o final do mandato, em 2018, ou se Dilma retornará ao cargo.
Essa encruzilhada dirá muito sobre os rumos do Brasil. Na primeira hipótese, da permanência de Temer, o governo terá o desafio de recuperar definitivamente a estabilidade econômica, a confiança do mercado e de pacificar as relações políticas. Precisará migrar das ações pontuais ou demonstrações simbólicas de atitude para um verdadeiro plano de reconstrução do país. E terá de encontrar a retomada do crescimento por meio do setor produtivo, isto é, para além da lógica meramente rentista – sem abrir mão do ajuste fiscal.
Na segunda hipótese, do retorno de Dilma – o que parece improvável –, ela teria a missão, quase impossível, de reconstruir uma base de sustentação política. Além disso, precisaria reformular seu apoio social, caso contrário não teria mobilidade sequer para redesenhar a trajetória de seu governo. Os remédios que vinha usando, especialmente na economia, já não servem diante da gravidade da crise que se instalou. E sua prática política, de pouca relação com o parlamento, também se mostrou ineficaz.
Mas, num ou noutro caso, o Brasil precisará tomar um novo rumo. Não pode continuar andando para trás. Por mais que a economia tenha deixado de piorar, isso ainda não é perceptível na vida real. Tanto é verdade que o desemprego continua aumentando. Estados e municípios, mesmo com renegociações e estimativas de aporte financeiro, seguem apresentando sérias dificuldades de fluxo de caixa. A Federação brasileira precisa reformar-se.
Também teremos, muito em breve, a votação da cassação de Eduardo Cunha. A Câmara dos Deputados se colocará, mais uma vez, na berlinda do julgamento da opinião pública. Decidirá entre a proteção de um colega, com forte influência na Casa, e a sinalização de preocupação ética para a sociedade. O resultado dessa questão é completamente imprevisível. Resolvido o assunto, virá uma série de projetos potencialmente polêmicos – como o da reforma previdenciária e trabalhista; a limitação de gastos da União; o fim da obrigatoriedade da Petrobras em participar com 30% dos leilões do pré-sal; o projeto que trata da dívida dos estados com a União, dentre outros temas.
De qualquer modo, o Congresso terá mais uma oportunidade de reverter o conceito negativo que tem perante a população. Seja por atitudes políticas, seja por decisões de mérito estrutural, deputados e senadores estarão com o destino do país em suas mãos. E, como é a praxe do Legislativo, terão de lidar com grupos de pressão e saber depurar o que, de fato, é interesse público ou apenas de alguns setores.
Mas a adrenalina deste segundo semestre não parou por aí. Ainda teremos a continuidade e os desdobramentos da Operação Lava Jato. A depuração precisará manter o rigor dos procedimentos sem perder a técnica jurídica.
E ainda temos as eleições municipais. Não será qualquer pleito. As normatizações são diferentes, pois a campanha será menor e as doações de empresas não estão permitidas. Há muitas dúvidas no ar. As forças políticas brasileiras estão se reacomodando, enquanto o eleitorado dá sinais de que pretende renovar. Todavia, tal indício já ocorreu noutras oportunidades, sendo que os índices de mudança seguiram estáveis. Mas aquele discurso convencional, de promessas e fanfarronices, certamente não terá mais o mesmo espaço. O povo está mais para o realismo da sinceridade do que para o sorriso fácil da demagogia.
A propósito: no meio ou durante todo esse contexto, teremos as Olimpíadas. Polêmicas Olimpíadas! Mas, independente se éramos contra ou a favor, o fato é que os jogos estão aí e, para o país, é melhor que tudo funcione adequadamente. O evento é um canal importante, construtiva ou destrutivamente, para a construção da imagem internacional. Além de bons resultados nos esportes, tomara que o Brasil tenha capacidade de mostrar organização e eficiência – porque simpatia e hospitalidade do povo não faltará.
Como se vê, não haverá tédio no Brasil nos próximos meses em termos de acontecimentos sociais, políticos e econômicos. Então, que a segunda metade de 2016 entre para a história como um semestre de evolução. Evolução política, ética, econômica, legislativa, produtiva, estrutural. Que os líderes de expressão estejam à altura de suas missões e que a população não esmoreça. O futuro, pelo menos de médio prazo, passa pelo que acontecerá logo em seguida. Que seja o melhor.
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