É sempre muito difícil analisar um processo histórico que está em curso. Existe grande chance de errar, na medida em que o ciclo ainda não se fechou. Entretanto, no caso do Brasil, já é possível constatar, sem grande margem de erro, que a Operação Lava Jato foi um marco na história política e jurídica recente do país.
A investigação e a prisão de pessoas que se julgavam acima da lei não é algo totalmente novo, tanto que essa designação nasceu nos idos dos anos 80. A partir de mudanças na legislação, diminuiu a margem de escape para detentores de poder. Atualmente, com a evolução das instituições e dos seus métodos, parece que chegamos ao ápice dessa transformação.
A prisão do ex-deputado Eduardo Cunha, até ontem presidente da Câmara e um dos homens mais poderosos da República, confirma essa constatação. E tudo ocorreu dentro do devido processo legal, com o amparo na lei e em uma sociedade democrática. Basta ver que a reação da opinião pública, apesar de esboçar perplexidade, foi de naturalidade e até mesmo de aprovação.
O brasileiro passou a compreender melhor a diferença entre as instituições e os indivíduos. Aquelas não podem ficar subjugadas a esses. Ou seja, desvios praticados por agentes públicos não devem ser protegidos ou escondidos sob a representatividade ocasional que possuem. Pelo contrário, é justamente nesses casos que a Justiça precisa agir até mesmo com mais celeridade e eficiência. Condenem-se as pessoas, mas preservem-se as instituições.
A Lava Jato trata-se de um sinal de evolução institucional do país. É normal que, em casos com tamanho alcance e duração, haja erros ou excessos pontuais. A espetacularização sempre é um risco. Todavia, o duplo grau de jurisdição existe exatamente para permitir esse saneamento, dentre outras possibilidades.
Tomara que a prisão de Cunha, mesmo que não seja definitiva, consiga produzir ainda mais provas para a investigação. Se ele falar, considerado seu perfil meticuloso, muitos poderão restar enrascados. E a delação premiada, outra ferramenta relativamente nova, se bem usada, pode ajudar bastante nisso. Que os efeitos tomem a proporção necessária doa a quem doer.
A frase não é nova, mas mais atual do que nunca: o Brasil precisa ser passado a limpo. E a Lava Jato está cumprindo, pelo menos em grande medida, esse papel. Não fará tudo, mas deixará um lastro para mostrar que poderosos de todas as espécies não estão acima da lei. E que o país pode moralizar suas estruturas e diminuir o alto grau de impunidade que ainda se faz sentir.
O que não podemos permitir, em nome de toda essa evolução, é que as investigações sofram qualquer espécie de obstrução ou constrangimento. Não há mais espaço para essa involução. Apenas para avançar. E se conhecer tamanhos desmandos causa desconforto, reconforta a esperança de dias melhores – mais limpos, mais probos, mais produtivos.
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