O Espantalho é um monólogo que coloca Werner Schünemann no centro do palco e tem Bob Bahlis na direção. Com exibições de 11 a 13 de agosto, sexta e sábado, às 20h, e domingo, às 18h, no Theatro São Pedro, o espetáculo marca o mês dos pais e é uma grande jornada sentimental em meio a escolhas difíceis que envolvem pais e filhos. Bahlis deu início ao texto, que chegou ao final com as percepções de Schünemann. O encontro dos artistas gaúchos não se dá por acaso e a diferença geracional revela-se como ingrediente especial que permeia toda a concepção e a montagem.
Schünemann interpreta um ator bem-sucedido, que vai ao sítio do pai jogar as suas cinzas. Ao chegar na horta cultivada pelo patriarca, ele se depara com um espantalho e caixas de madeiras com objetos pessoais, que revelam vestígios de sua vida e de suas relações.
“Sempre achei que devemos buscar uma sociedade igualitária, mas sinto também que o papel masculino dentro da sociedade, que foi construído, ao longo de milênios, sobre o patriarcado, a opressão e o machismo, em breve não vai mais existir. Fui assistir a Velha D+, da Fernanda Carvalho Leite, que tem a direção do Bob e texto dele também. Ao final, disse ao Bob que era exatamente o que eu queria, mas voltado para a alma masculina. Tivemos experiências de trabalhos juntos em leituras de textos da Clarice Lispector, há dois anos. Eu queria que fosse um monólogo sobre o masculino, sobre pais, filhos e como as ideias gastas e perversas de masculinidade passam de geração em geração. Bob criou a história do personagem e me entregou uma estrutura, um breve relato da vida de um homem. E essa teatralização está sendo feita por nós dois juntos ”, conta Werner.
A partir disso, o personagem faz um exercício de recriação de sua memória, debruçando-se sobre a complexa relação estabelecida com o pai, desde a infância até a vida adulta. Entre as lembranças estão o período no internato, as primeiras relações amorosas, o casamento, a chegada do filho, a perda da mãe e reflete ainda sobre a finitude humana.
A passagem do pai se constitui em um elo entre o passado e o presente, mas também instaura uma necessidade de recomeço e renovação. Usando de simplicidade e delicadeza, o público é alvo fácil de cada palavra, cada sentimento, contidos em todas as linhas do roteiro. Uma peça sobre ser homem, sobre perdão e sobre fragilidades.
“Eu acho importante a gente trazer de volta o questionamento do que é humano. Eu quero falar sobre o humano, não necessariamente o humano apenas do homem. A peça trata de assuntos que são comuns a todos nós, humanos: vida, existência, morte, sucessão. Eu queria falar sobre as minhas preocupações, os meus sentimentos sobre esses assuntos. A minha emoção é sobre o assunto que o personagem está falando e a peça é extremamente verdadeira. Na peça, fico de peito aberto e rasgado diante disso”, confessa Werner.
Há uma obra de arte, pintada em uma grande tela, que fará parte do fundo de palco do espetáculo. As cores e o fluxo da obra remetem a algo aquático e também de vegetação. “Pensei no personagem, na sensibilidade das descobertas dele. Então produzi um cenário abstrato para que o espectador fosse descobrindo aos poucos, junto com a luz, que tratam-se de árvores, floresta, próximo a um rio, a uma horta. Gosto que as pessoas tenham várias interpretações. O fundo tem nuances que ora lembram água, ora lembram mato, tem profundidade, é possível fugir dentro daquela imagem. Trabalhei muita textura, com raízes têxteis, com reciclados”, explica Tânia Oliveira, que é responsável pela cenografia e figurino. Quem assina a trilha sonora do espetáculo é Hique Gomez.
INSPIRAÇÕES
A dupla gaúcha teve como inspiração para a montagem da obra teatral três obras literárias importantíssimas: Carta ao Pai (Franz Kafka); Minha Luta 1 – A Morte do Pai (Karl Ove Knausgård); A Terceira Margem do Rio (Guimarães Rosa). As três obras literárias são citadas ao longo da montagem e auxiliam na textura e correspondência à exibição. Em um claro questionamento sobre a masculinidade e as relações estabelecidas que estruturam o machismo, o texto versa, sobretudo sobre o amor entre pai e filho e os recomeços necessários propostos pela vida.
Bob Bahlis
Otávio Bahlis tornou-se Bob no início dos anos de 1990, inicialmente como personagem de Bob Pop Show, depois virou nome artístico. Ator, diretor, dramaturgo, radialista, produtor, professor e jornalista são algumas de suas categorias profissionais. Mas, Bob quer mesmo é contar histórias, suas e de diferentes autores. Assim foi com Dez (quase) amores, primeira obra literária de Claudia Tajes e De volta para a garagem, inspirada em Pode ser só o leiteiro lá fora, de Caio Fernando Abreu ou Coração de Búfalo, musical com Carlinhos Carneiro, vocalista da banda Bidê ou Balde. Atualmente, está em cartaz com o espetáculo Velha D+.
Werner Schünemann
É ator, cineasta e historiador. A carreira começou no teatro até chegar ao audiovisual como ator, diretor e roteirista. Coleciona prêmios por sua atuação no cinema, televisão e teatro. Tornou-se nacionalmente conhecido por sua participação na minissérie A Casa das Sete Mulheres (2003) da Rede Globo. Desde lá, integrou elencos televisivos de novelas e séries em diferentes emissoras, sem nunca abandonar os palcos e a Sétima Arte.
Nasceu em Porto Alegre, mas foi criado entre Novo Hamburgo e São Leopoldo. Apaixonou-se pelos palcos aos 15 anos, primeiramente na escola e depois no Grupo Faltou o João. Integrou o grupo Vende-se Sonhos e a turma do Super-8, com jovens cineastas de Porto Alegre. Foi ator em Deu Pra Ti Anos 70, Verdes Anos e Inverno. Formado em História pela UFRGS, também foi professor desta disciplina. A partir de 2021, passou a se aventurar na literatura e lançou Alice deve estar viva, seu romance de estreia.
ENSAIO ABERTO COM CONVIDADOS ESPECIAIS
Os ensaios da montagem ocorrem no ateliê da cenógrafa e figurinista Tânia Oliveira, na cidade de Esteio. Durante o período, amigos foram convidados a assistir aos ensaios:
“A falta do abraço, o beijo enviesado, as palavras enclausuradas, o óbvio que não é óbvio, o choro trancado que se retorce na face, o gosto amargo da raiva, tudo vai para o acerto de contas. Entre filho e pai, os não ditos são protagonistas em O Espantalho. A jogada das cinzas no sítio vira pretexto para desengasgar os guardados de uma vida inteira, num monólogo interpretado pelo ator Werner Schünemann, com direção de Bob Bahlis”, Alice Urbim
“Despretensiosa e delicada, a peça “O Espantalho” convida a embarcar em uma jornada sentimental pelas escolhas tortuosas nas quais pais e filhos muitas vezes se envolvem. Problemas familiares não têm endereço. O público se vê envolvido em cada situação, palavra, emoção, contidas na narrativa. Fredi, um homem de meia idade, bem sucedido em sua profissão de ator, vai até um sítio jogar as cinzas do pai, mas ao chegar na horta se depara com um espantalho. Diante do espantalho, Fredi vê a sombra do pai e faz um exercício de recriação de sua memória, debruçando-se sobre a complexa relação entre pai-filho na infância, juventude e vida adulta. A paternidade se revela como algo mais, além dos laços biológicos. No mesmo instante que a morte do pai se constitui num elo entre o passado e presente, também instaura uma necessidade de recomeço e renovação da própria vida. Uma peça sobre a alma masculina com emoções à flor da pele. Um monólogo conduzido pelo ator Werner Schünemann com direção de Bob Bahlis”, Peninha.
“Tive o privilégio de assistir a um ensaio de O Espantalho, monólogo com meu querido irmão Werner Schünemann dirigido pelo talentoso Bob Bahlis. Momento extraordinário. Mais do que presenciar o profundo e comovente ajuste de contas entre um filho e seu pai ausente, pude vislumbrar naquele ensaio um Ator (com “A” maiúsculo) na plenitude de sua maturidade técnica e profissional, apropriando-se de um texto complexo e fascinante. Dizem que – para os atores – o palco é o lugar que separa os meninos dos homens. Werner é um homem. De Teatro
Um grande Ator fazendo um grande Teatro. Ambos maiúsculos. Imperdível” Marcos Breda
“Um homem, literalmente, abre as caixas do passado. Ele está num momento crucial da vida e precisa fazer um acerto de contas com o pai. Werner Schünemann pega carona na autoficção e coloca em cena a discussão do papel masculino em tempos de ressignificação da situação feminina. Nada mais contemporâneo e importante e ele faz isso com talento e ternura”, Gilberto Perin (fotógrafo, roteirista e diretor de cena).
“Assisti aos ensaios e conheço o Werner de longa data. Acompanho ele na televisão, no cinema, no teatro. Ele é um ator que tem um peso histórico nas artes performáticas brasileiras e eu achei o texto muito bacana. Vai ser muito lindo esse trabalho! Tudo que eu percebi no ensaio eu tratei de jogar na trilha para criar ambientes sonoros emocionais. A peça é muito emocional, trata-se da relação de pai e filho e achei a ideia muito bacana. Aquele espantalho que fica no palco acho que muita gente vai se identificar, assim como eu”, Hique Gomez, que assina a trilha sonora do espetáculo.
FICHA TÉCNICA:
O Espantalho
Elenco: Werner Schünemann
Direção: Bob Bahlis
Texto inicial: Bob Bahlis
Texto final: Werner Schünemann e Bob Bahlis
Produção: Ivana Dalle e Janine Ponte
Cenografia e figurino: Tânia Oliveira
Trilha sonora: Hique Gomez
Luz: Marga Ferreira
Direção de Produção: Ivana Dalle
Assessoria de imprensa: Agência Cigana
Instagram: @oespantalhonoteatro
SERVIÇO
O Espantalho
De 11 a 13 de agosto
Sexta e sábado, 20h
Domingo, 18h
Duração aproximada: 1h
Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/n° – Centro Histórico)
Ingressos:
Plateia e Cadeira Extra R$150,00
Camarote Central: R$140,00
Camarote Lateral: R$120,00
Galeria: R$50,00
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