O coletivo do Recife apresentará, pela primeira vez em Porto Alegre, a montagem de dança que transporta o clássico Romeu e Julieta, de Shakespeare, para o contexto do sertão, com coreografia assinada por Maria Paula Costa Rêgo. As apresentações acontecem de sexta a domingo (4 a 6 de abril) no novo palco do Multipalco Eva Sopher
Coletivo fundado há quase três décadas pelo escritor e dramaturgo Ariano Suassuna (1927-2014) e pela coreógrafa Maria Costa Rêgo para explorar a dança contemporânea no contexto das tradições populares, o Grupo Grial, do Recife, será a segunda atração a se apresentar no palco do recém-inaugurado Teatro Simões Lopes Neto, no Multipalco Eva Sopher. A convite da curadoria do novo espaço, o grupo trará para Porto Alegre, pela primeira vez, o espetáculo Uma Mulher Vestida de Sol, uma história de amor em terras de tragédia que transporta o clássico Romeu e Julieta, de William Shakespeare, para o contexto do sertão, com uma fusão de dança, poesia, teatro e música ao vivo.
A montagem terá curta temporada de 4 a 6 de abril, com sessões na sexta e sábado, às 20h, e no domingo, às 18h, com produção local da Gana&Voga, realização da Sedac, por meio da Fundação Teatro São Pedro e da Associação Amigos do Theatro São Pedro, e patrocínio do Banrisul. Os ingressos custam entre R$ 40 (meia-entrada) e R$ 120 (inteiro) e estão à venda no site www.theatrosaopedro.com.br.
Para a diretora artística da Fundação Theatro São Pedro, instituição vinculada à Secretaria de Estado da Cultura (Sedac), Gabriela Munhoz “ter a possibilidade de ter o Grupo Grial na programação de inauguração afirma a pluralidade e a diversidade cultural, pois é um grupo com quase 30 anos de trajetória, que preza pelas manifestações populares e a criação contemporânea na dança. Enquanto curadora, acho emocionante termos este grupo do Recife contando sua história no nosso novo palco gaúcho”.
O espetáculo é a versão em dança para a peça homônima que Suassuna escreveu inspirado em um folheto de cordel de João Martins de Athayde. Na trama, os leitores são apresentados a dois jovens sertanejos, Rosa e Francisco, que, apesar de primos, não podem conviver e, muito menos, viver um romance, pois seus pais são inimigos devido a uma disputa de terras.
A partir dessa história, a coreógrafa Maria Paula Costa Rêgo faz uma releitura para o Grupo Grial, com um olhar mais feminino. A direção coreográfica traz uma adaptação dessa história para o universo contemporâneo da dança, mergulhando na beleza árida do sertão nordestino e criando um universo vazio habitado por bodes e duas famílias inimigas. Apesar de pontuar nos corpos e na sonoridade as poéticas típicas da região, o coletivo traz uma visão trágica de um Brasil arcaico, apegado à tradição do poder do homem sobre a terra, sobre outros homens e principalmente sobre as mulheres.
“Naquele ambiente árido, não há espaço para o feminino. Rosa, assim como tantas outras personagens, não têm vez e nem voz. Nossa protagonista não vê nenhuma saída para a opressão além da morte. Quer dizer, não é exatamente uma história como a de Romeu e Julieta, em que o amor fala mais alto, mas uma história sobre a solidão”, conta Maria Paula. “Para ilustrar essa atmosfera, optamos por povoar a cena com couros de bode. No sertão, são eles que povoam as terras e estradas”, completa ela.
Em cena estão quatro artistas. Aldene Nascimento, Emerson Dias, além de Bruna Alves, uma intérprete cega, assumem a trilha sonora e os vocais durante a apresentação. Já a direção musical é assinada pelo pandeirista Miguel Marinho, que também está em cena e foi responsável por fazer a poesia sertaneja de improviso, chamada de glosa, estar presente no trabalho. “Eu queria uma sonoridade estranha e quando ele toca seu pandeiro produz um som tão potente que é quase como se tivesse uma orquestra acompanhando”, comenta a diretora.
Mais sobre o Grupo Grial
Criado em 1997, o Grupo Grial integra o movimento armorial, que busca criar uma arte erudita brasileira a partir das tradições populares. Ao longo desses anos, o coletivo buscou uma aproximação com as brincadeiras populares, desenvolvendo outro corpo dançante. Maria Paula afirma que o grupo entrou em sua quarta fase produtiva. Agora, a ideia é expandir os horizontes artísticos, mesclando dança, canto, poesia e teatro. “Nossa sala de aula é o terreiro, as sambadas… Já temos um corpo atravessado por algumas tradições pernambucanas (cavalo marinho, frevo, maracatu rural, maracatu nação, entre outras) e alinhavado por procedimentos da criação contemporânea”, explica.
O coletivo vem criando sólida referência no panorama da dança brasileira, com participações em diversos festivais de dança nacionais e internacionais, além de receber prêmios e patrocínios para suas criações e circulações. Foi indicado como Melhor Espetáculo pelo Jornal Estado de São Paulo em 2012 (com Travessia) e recebeu o APCA 2013, de Intérprete Criadora (com Terra). O grupo possui em sua trajetória 13 criações coreográficas e três estudos em parceria com outras companhias.
Mais sobre a programação de inauguração do Teatro Simões Lopes Neto
Além da apresentação do espetáculo Uma Mulher Vestida de Sol, a agenda de inauguração do Teatro Simões Lopes Neto ainda contará com outros sete espetáculos, realizados pela Sedac, por meio da Fundação Teatro São Pedro e da Associação Amigos do Theatro São Pedro, e com patrocínio do Banrisul. A programação conta com montagens de diferentes expressões artísticas, abrigando diferentes temáticas, além de homenagear o escritor e jornalista pelotense João Simões Lopes Neto, considerado o primeiro grande nome da literatura do Rio Grande do Sul e que foi o escolhido para nomear o novo teatro.
O novo palco receberá ainda o premiado espetáculo de dança Chula, com a bailarina e percussionista Emily Borghetti, no dia 9 de de abril; e a Orquestra Theatro São Pedro, no dia 10 de abril, com o concerto que comemora seus 40 anos de atuação. Depois, o calendário inaugural contará com o show musical Dementes, do grupo argentino La Buena Moza, nos dias 11 e 12 de abril; e com a comédia dramática A Viúva Pitorra, escrita em 1896 por Simões Lopes Neto, sob o pseudônimo de Serafim Bemol, que retorna a cartaz após 33 anos, para sessões nos dias 16 e 17 de abril.
O público também poderá encontrar grandes nomes do teatro nacional: nos dias 25, 26 e 27 de abril, a peça Tom na Fazenda, premiada em cinco diferentes países, trará para a cidade seu idealizador, Armando Babaioff, além de Denise Del Vecchio, Iano Salomão e Camila Nhary no elenco. O espetáculo aborda questões cruciais e contemporâneas, como a homofobia e o patriarcado. E, de 1 a 4 de maio, o público poderá assistir Lady Tempestade, uma das peças líderes nas indicações para a 35ª edição do Prêmio Shell de Teatro, estrelada por Andrea Beltrão, com direção de Yara de Novaes.
Ainda poderão ser conferidas duas produções inéditas, criadas especialmente para o novo teatro. A primeira será o espetáculo Lendas do Sul, que transformará fábulas como Salamanca do Jarau e Negrinho do Pastoreio, registradas por Simões Lopes Neto, em uma adaptação circense assinada pela trupe do Grupo Tholl, com apresentações nos dias 9 e 10 de maio. O encerramento da programação inaugural terá entrada franca e contará com a Cia Rústica, dirigida por Patrícia Fagundes, apresentando a montagem cênico-musical inédita Cabaré do Tempo – Para Lembrar do Futuro.
Todos os ingressos para a programação de inauguração do Teatro Simões Lopes Neto estão à venda no site www.theatrosaopedro.rs.gov.br, com preços entre R$ 10,00 e R$ 200,00, exceto para o espetáculo Cabaré do Tempo, que terá distribuição gratuita de senhas no dia da apresentação. Outras novidades podem ser acompanhadas pelas redes sociais, no @multipalcoevasopher.
SERVIÇO
Espetáculo de dança Uma Mulher Vestida de Sol, do Grupo Grial
De 4 a 6 de abril
Sexta e sábado, às 20h, e domingo, às 18h
Teatro Simões Lopes Neto, no Multipalco Eva Sopher (entrada pela Rua Riachuelo, 1089, ao lado do estacionamento)
Ficha técnica
Direção coreográfica: Maria Paula Costa Rêgo
Intérpretes criadores: Aldene Nascimento, Bruna Alves, Emerson Dias e Miguel Marinho
Trilha sonora: Grupo Grial
Direção musical, intérprete, e poeta: Miguel Marinho
Iluminação: Luciana Raposo
Figurino: Biam Diphá
Cenografia: Grupo Grial
Produção: Maria Paula Costa Rêgo, Paulo André Leitão e Sofia Santana
Ingressos
Galeria: R$ 80,00 inteiro e R$ 40,00 meia-entrada
Balcões superiores: R$ 80,00 inteiro e R$ 40,00 meia-entrada
Balcões inferiores: R$ 100,00 inteiro e R$ 50,00 meia-entrada
Plateia alta: R$ 100,00 inteiro e R$ 50,00 meia-entrada
Plateia baixa: R$ 120,00 inteiro e R$ 60,00 meia-entrada
Cadeira extra: R$ 120,00 inteiro e R$ 60,00 meia-entrada
Pontos de venda
Online: www.theatrosaopedro.rs.gov.br
Bilheteria do Teatro Simões Lopes Neto: somente nos dias de espetáculo, a partir de duas horas antes do início das apresentações