ARTIGO – 150 anos de raízes polonesas no RS: memória, herança e presente

ARTIGO – 150 anos de raízes polonesas no RS: memória, herança e presente

Facebook Twitter Google+ LinkedIn WhatsApp

Juliane Soska – jornalista, assessora de imprensa na Moglia Comunicação, integrante da Sociedade e do Grupo Polônia de Porto Alegre

Há 150 anos, milhares de imigrantes poloneses chegaram ao Rio Grande do Sul em busca de novas oportunidades. Encontraram uma terra difícil, marcada pelo trabalho árduo. Ainda assim, ergueram igrejas, cultivaram a fé, preservaram o idioma e as tradições. Esse legado de resiliência atravessou gerações e ajudou a moldar a identidade cultural do nosso Estado — e também a minha própria história.

Cresci com um sobrenome polonês que sempre carreguei com orgulho. Uma espécie de bússola silenciosa, apontando para uma terra distante, mas profundamente presente em quem sou. Após a partida do meu pai, em 2019, senti um chamado mais forte: o de me reconectar com minhas origens. Não apenas por mim, mas para que minha filha, Martina, também soubesse de onde viemos.

Essa jornada nos levou ao Grupo Folclórico Polônia e à Sociedade Polônia de Porto Alegre — espaços criados justamente para manter viva a cultura que esses imigrantes trouxeram. Tornar-me membro da entidade — como sócia, dançarina/mãe de dançarina, secretária e assessora de imprensa — foi mais do que uma escolha: foi um gesto de respeito e de continuidade. Cada ensaio, cada reunião e cada festa típica é, para mim, um reencontro com os passos de quem veio antes e um compromisso com quem virá depois.

Aprender a língua polonesa passou a ser parte dessa reconexão. Cada palavra descoberta, cada texto lido, fortalece o elo entre passado e presente. Na cozinha, ao preparar pratos como barszcz, bigos, pierogi, smalec e kotlety mielone, revivo memórias do meu avô. Até na torcida esportiva, às vezes o manto tricolor do Grêmio dá lugar à camisa branca e vermelha da seleção polonesa, com sua águia altiva no peito.

Conhecer a Polônia com minha filha foi a concretização do encontro entre memória e experiência. Caminhar por Kraków, Wrocław, Zakopane, Częstochowa, Warszawa e, especialmente, por Karniewo, a cidade dos nossos ancestrais, nos permitiu tocar os lugares onde nossas histórias começaram. Assistir à missa na igreja onde meus trisavós se casaram antes de migrarem para o Brasil trouxe uma emoção única: ali, sentimos que nossas raízes estão presentes em tudo que fazemos.

Hoje, contribuo com orgulho para o projeto editorial que celebrará os 130 anos da Sociedade Polônia de Porto Alegre — uma entidade que nasceu do mesmo espírito que motivou os primeiros imigrantes: o desejo de preservar a cultura e fortalecer os laços comunitários.

A imigração polonesa no Brasil não é apenas um capítulo da nossa história. É também a base sobre a qual muitas famílias, como a minha, construíram suas vidas. E agora, 150 anos depois, é nossa vez de honrar esse caminho.