Houve um tempo, em que cronistas exigentes como Armando Nogueira, nosso Pelé do texto, localizavam facilmente artistas da bola e se encantavam com a excelência da sua técnica. E destacavam suas qualidades com adjetivos generosos, independentemente da camisa que vestissem. Que diriam cronistas de gosto apurado como Armando Nogueira diante do futebol apresentado hoje pela maioria dos jogadores profissionais do país? Armando Nogueira talvez quisesse abordar outro assunto nas crônicas para não macular com palavras zangadas sua elegância e sensibilidade. Onde estão os nossos artistas da bola? Com muita condescendência eu admito que Neymar se inclui nesse grupo de talentosos privilegiados. E quem mais? Acostumado a assistir jogos de futebol por gosto e interesse profissional , me sinto cada vez mais tocado por um sentimento de reprovação e tristeza com a mediocridade de muitos jogos e a ruindade da maioria dos seus participantes. E não me sinto sozinho nessa condição, pelo contrário. Ainda ontem, um funcionário da limpeza pública que conversou comigo me disse que está ficando cada vez mais difícil para ele assistir a um jogo inteiro na televisão. Disse que fica sonolento com o excesso de passes errados e a escassez de finalizações, como se os atacantes não tivessem obrigação de arremessar a bola contra a meta adversária. Concordei com ele, mas não quis prolongar o encontro com ele por achar que ficaríamos vários minutos conversando na calçada, com fortes criticas para todos os lados. Segui o meu caminho e ele voltou ao trabalho, removendo uma árvore que caíra no meio da rua.
Será que o futebol brasileiro, considerado no seu contexto mais amplo e comparado ao que nós, veteranos, já vimos em décadas passadas um dia vai melhorar? Vendo a situação constrangedora de equipes como o tradicional Palmeiras, que mesmo de técnico novo, o Cuca, perde três jogos seguidos para equipes sem expressão do interior paulista, tenho as minhas dúvidas. Acho que já está mais do que na hora de ampliarmos a discussão sobre o tema, com a participação de dirigentes de clubes, de jogadores e cronistas esportivos, até para não vermos num futuro muito breve os estádios vazios por falta de interesse do público em jogos de futebol. A velha e manjada opção pela troca de técnicos quando os times vão mal, ou a compra de jogadores caríssimos quando a crise já está sem controle, não resolvem os problemas do crescente apequenamento do nosso futebol. Desaprendemos a jogar bola? Ou só nos resta ler, com emoção, os textos de mestres cronistas do passado, consagradores de ídolos que já vestiram as camisas dos nossos grandes clubes?
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