No Theatro São Pedro, o espetáculo cumpre curta temporada, de 08 a 10 de abril, sexta e sábado, às 21h, e domingo, às 18h. Ingressos à venda. A montagem reverencia William Shakespeare em um de seus textos mais conhecidos, Ricardo III, celebra também vinte anos do Teatro ao Quadrado e marca a volta de Luciano Alabarse como diretor teatral – ele assina a direção da obra que conta com as atuações luxuosas de Marcelo Ádams e Margarida Peixoto.
“Desde a estreia do espetáculo, no início de janeiro de 2022, temos testemunhado acontecimentos assustadores em nosso planeta, o principal deles a invasão da Ucrânia pela Rússia. Presenciamos com isso o fortalecimento de mais um governante que faz uso de seu poder bélico para difundir morte e destruição. O invasor Putin é mais uma face dos Ricardos III aparecidos ao longo da História. Estou convencido de que o espetáculo “O inverno do nosso descontentamento- Nosso Ricardo III” está ainda mais atual após essa tensão no leste europeu, mas que nos afeta a todos”, refletem Margarida Peixoto e Marcelo Ádams.
O Ricardo da montagem é o vilão shakespeariano, mas não só. Como ele mesmo avisa, retrata em si, e para além de si, os tiranos genocidas de todos os séculos. Essa é a deixa para falar dos Ricardos que o sucederam. Não há truques nessas transformações do personagem. Mudanças de corpo, voz e figurinos fazem a narrativa fluir e avançar. À frente do público, prescindindo o uso de ferramentas tecnológicas, a estrutura dramatúrgica, complexa e interessantíssima, levou à escolha de uma artesania teatral simples e surpreendente.
A cumplicidade para um resultado teatral satisfatório pede confiança. E é exatamente este o caso. Alabarse, Marcelo Ádams e Margarida Peixoto já trabalharam muitas vezes juntos. São parceiros de espetáculos e sonhos. São mais que colegas, são amigos.
“O entusiasmo com a montagem é total. Nosso Ricardo III é uma peça que, atemporal, fala para o aqui e o agora. Porto Alegre. Brasil. Mundo inteiro. O poder e seus tentáculos, os discursos que não disfarçam a ganância e a prepotência. O Inverno do Nosso Descontentamento é a reunião de pessoas de teatro que têm dedicação ao seu ofício e que se entregaram ao texto, ao espetáculo. Voltar ao cartaz com essa peça dá um frio na barriga e um orgulho danado”, revela Luciano Alabarse.
Tratadas individualmente, cada uma como um universo em si mesmo, a partir de rubricas iniciais genéricas, as cenas foram se imantando de forma surpreendente. Trechos de outras peças de Shakespeare se impuseram, discussões e leituras sobre o teatro de Bertolt Brecht, Heiner Muller e Angélica Liddell – fontes de inspiração e estudos que guiaram as escolhas (a fragmentação épica de cenas que se sucedem rapidamente, a desconstrução de obras clássicas da literatura ocidental, a ferocidade da linguagem cênica), citações presidenciais e fatos da política brasileira, tudo foi passando por depuração e contribuições pessoais – até chegar à uma dramaturgia adequada ao propósito. O texto final é fruto dessas escolhas. Segundo Alabarse, todo o grupo é autor e coautor do resultado final.
O cenário, objetos cirúrgicos e hospitalares jogados em um lixão aleatório, não é por acaso. Reforçam de maneira brutal todas as doenças, físicas e psíquicas, do personagem. O mundo está doente. Pestes e epidemias dizimam sociedades enquanto líderes políticos agem sem escrúpulos para manter seus poderes.
Leave a Reply
Você precisa fazer o login para publicar um comentário.