O ano era 1983. O Grêmio, Campeão da LA, se habilitou a disputar a grande final em Tókio do Mundial Interclubes, glória até então só alcançada por Santos de Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe entre outros, e Flamengo, de Júnior, Zico etc.
Koff passou a poupar atletas dos jogos do regional e outras disputas para se dedicar exclusivamente ao grand finale. Choveram críticas. Neste período conheci o Grande Antônio Augusto, que mantinha um programa na velha e boa Guaíba. Ele era contra a ideia e, ao estilo dele, martelava todas as noites censurando a estratégia.
Não havia o mesmo número de competições que hoje e ainda restavam alguns meses para o jogo contra o Hamburgo – a LA foi conquistada em 28 de julho e Tókio estava programado para 11 de dezembro daquele ano. Naquela partida contra o Hamburgo o Grêmio inscreveu Porto Alegre e o Rio Grande do Sul no ´mapa mundi` do futebol. Nunca um time gaúcho havia chegado tão longe, alcançando o que Pelé e Zico conquistaram com seus comandados. Num destes programas do AA liguei no intervalo para ponderar o acerto da estratégia. Falamos um bom tempo, ele estava irredutível. Não demorou muito para conhecer pessoalmente o cidadão, nascendo uma fraterna amizade que perdurou até o seu falecimento e que segue na memória e no coração. Participei do seu programa na Pampa onde todas as quintas feiras estando eu onde estivesse entrava no ar e levávamos um papo gostoso e gratificante falando do tricolor.
Foi ali, em 1983, que este dilema de poupar ou não titulares nasceu, e perdura até hoje não só para nós – pioneirismo. Na década de 90 se fortificou, quer porque aumentou o número de competições quer porque Koff apelidou o Gauchão de Cafezinho e o regional passou a ser secundário para o Grêmio. Este debate não terá mais fim, e é bom que não tenha, porque se não tiver é porque o clube está envolvido em disputar a ponta das pontas.
Esta controvérsia nasce a cada vez que o calendário estreita. Renato escolheu poupar no Brasileiro, na terceira rodada, contra o SPORT, mirando a CB, que o Grêmio é Penta – já tinha feito isto em 2016 quando da conquista – correndo o risco de não fazer 100% de aproveitamento no campeonato onde já tinha alcançado duas vitorias sem sofrer gols e jogando um futebol de primeira. Sem flauta.
Risco previsto fez 2 x 0 rapidamente e se encaminhava para fechar com chave de ouro a terceira rodada. Nas redes imediatas a poupança era saudada efusivamente. A gurizada não segurou o tranco. Mesmo não sendo um time forte a experiência e o preparo, o entrosamento e a necessidade, fizeram o Sport crescer, o time moleque cansou e não conseguiu desmanchar o ímpeto do clube da Ilha do Retiro e cedeu. O final de 3 x 4 foi honroso para a garotada mas perdemos o jogo, a liderança.
Neste momento nas redes inverteram a opinião. Eu mantive a mesma de antes do jogo, achava que poderiam ter ingressado 4 ou 5 titulares e me parece seriam suficientes, ainda que ingressassem no segundo tempo, para vencer. Mas Renato, convicto, mandou a Recife o time que meu pai chamaria de o “3º Quadro”. O comentarista secador se rasgou em críticas, pouco tinha a falar da sua própria paixão.
Com teses de todos os lados uma só coisa é certa. Como um Juiz numa causa, só a direção tem legitimidade, efetiva, para decidir nestes momentos. O resultado em regra define, na cabeça do torcedor, o acerto ou o erro. Acertando, ou errando, a direção sempre enfrentará este dilema. O bom dilema. Tomara que sempre haja.
Ruim com ele, pior sem. Só possui quem pode. Quem não pode bate palmas ou fica olhando, ou secando. Renato está comandando o clube em período que muitos já tiveram cinco treinadores. Parece que tem acertado. O futebol é assim. Há quem esteja com água no pescoço mas com os olhos sempre de fora cuidando o inimigo. É do jogo, mas quem está com a corda no pescoço e se preocupa em excesso com o oponente, pode se afogar à beira da praia. E tem o torcedor apaixonado no limite que só baterá palmas quando der certo: quando está chateado é capaz de achar que o primeiro tempo foi do time do Roger, no segundo o do Renato. É do jogo. É o futebol.
Saudações Tricolores!
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