O Brasil assumirá a presidência do Mercosul no final de julho. E, mesmo com a instabilidade política que enfrenta, o país terá oportunidade de dar uma nova configuração para as relações internacionais do mercado regional, que sempre foram muito restritas e até mesmo obtusas. Nesse período, ocorrerão as negociações para o fechamento de acordo com a União Europeia – que os dois lados gostariam de anunciar até o final do ano. Há também conversas com o Canadá, o Efta (Suíça, Liechtenstein, Noruega, Islândia) e o Japão. Outro grande objetivo é melhorar o comércio dentro do próprio bloco.
Trata-se de um novo momento e de uma nova forma de perceber as relações internacionais, fruto da mudança no comando dos principais países do Mercosul – Argentina e Brasil. As presidentes Dilma Rousseff e Cristina Kirchner tinham uma visão mais restritiva do que Michel Temer e Maurício Macri. Ambas defendiam um viés mais regionalista do ponto de vista comercial e político, sendo que agora o olhar é de maior abertura e prospecção. Não se pode deixar de constatar que mudou o paradigma ideológico das forças que governam as duas nações.
Nesse sentido, crescem as chances de ocorrer acordos bilaterais, algo que a perspectiva anterior não dava vazão, em virtude da opção preferencial pelos países da América Latina. Até aqui, o Mercosul permite que seus membros só negociem acordos de livre comércio em conjunto. Ou seja, ficamos amarrados por Argentina, Uruguai, Paraguai e Venezuela. Todo o respeito às nações irmãs, mas esse coletivismo chegou às barras da autoflagelação econômica.
Enquanto nações como Chile e Peru possuem mais de trinta acordos bilaterais, o Mercosul só celebrou três: com Israel, Palestina e Egito. As exportações para esses países correspondem, respectivamente, a 0,2%, 0,01% e 1% do total brasileiro. Tratados semelhantes não existem com os nossos grandes players. O Brasil, como um dos maiores produtores de alimento do mundo e com uma indústria que necessita como nunca de mais mercado externo, não pode desejar tão pouco.
O resultado dessas escolhas, somadas à timidez histórica anterior, levou o país a ocupar a 25ª posição no ranking dos maiores exportadores entre os 162 países da Organização Mundial do Comércio (OMC). Isso é ainda mais dramático num período de recessão, como o que nos encontramos, quando o mercado doméstico não consegue absorver a capacidade de produção do país.
Na comparação com os vizinhos, nosso tímido avanço fica ainda mais visível. No Chile, por exemplo, os acordos comerciais dão acesso livre de barreira a 83% do mercado mundial, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI). No Peru, as empresas chegam a 74% do planeta. No México, a 57%. No caso brasileiro, nossos tratados nos levam apenas a 8% do comércio global.
Antes do período mais recente, já não vínhamos bem. A participação do Brasil no mercado internacional, nos últimos 40 anos, regrediu percentualmente. Foi de 1,18% em 1976 para 1,11% no último ranking da OMC, que mediu o ano de 2015. Muitos países nos ultrapassaram, alguns quintuplicando a fatia no mercado global. O México vale novamente como exemplo: com os acordos e tratados multilaterais, passou de uma participação de 0,46% para 2,36% nessas quatro décadas pesquisadas.
A presidência brasileira do Mercosul, além desses enormes desafios e oportunidades, terá como fato nova a postura restritiva inaugurada pelos Estados Unidos. O presidente norte-americano Donald Trump já anunciou, por exemplo, que quer retirar o país do tratado de livre-comércio Transpacífico. É, claramente, uma visão de fechamento e proteção. Se o Brasil e os membros do mercado regional ficarem atentos e tiverem mobilidade e agilidade, provavelmente novas oportunidades se abrirão nesse vácuo.
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