Falei de Bolaños, na primeira coluna, e da esperança da atuação do Grêmio. Em primeira mão rodei na redes radiografias da tragédia. Perdoem-me futuras notícias. Não iria escrever esta coluna porque, saindo de férias, registrei isto na anterior, só retorno dia 22, mas, face o fato inusitado me preparei para antes da saída deixar registro sobre o jogo. Pouco se falou dele, se discorreu sobre o resultado da jogada. Nesta segunda, fiz pit stop no histórico chalé da praça, com meu amigo de todos dias, Juliano Ferrer. Falamos de tudo, escritório, Grêmio e vida, fui para casa e, na entrada da garagem o guarda me larga: “li tua coluna no blogue mas cara, estás no mesmo blogue do Kenny?”. Ouvi e continuei em direção ao carro. A censura que levei foi do tipo puxa, como podes estar no mesmo lugar … Pensei explicar mas por que explicar? Lembrei do papo que, por casualidade, tocava no Kenny. Era menino, 20 anos, grudado na boemia da cidade. Pernambuco, era figura das mais tradicionais e tinha um bar na República chamado Encontro. O bar tinha porta vai e vem e era estreito. Passada a porta, uma rua estreita, a esquerda e à direita, meio fio de calçada, com desenhos nas paredes que retratavam portas e janelas. Nas calçadas simuladas, mesas, como numa vizinhança, onde moradores sentavam e paparicavam suas vidas. No meio do caminho havia um palco onde, das 21 as 24, o grupo fazia samba de raiz estilo Lapa. Após meia noite MPB. No fundo, um cirquinho, arquibancadas e lona e corria a canja, quem chegasse com violão, dava o tom. Ali vi e ouvi artistas dos melhores. Não conheci lugar mais fascinante que aquele.
Naqueles tempos, percebi a existência do Kenny. Me lembro dele percorrendo as mesas e vendendo seus livros. Um deles, cujo nome não lembro, trazia na capa um passarinho preso na gaiola. Eu comprei aquele livro, li admirado, e como todos os livros alguém me tomou. Kenny era detentor de uma redação apaixonante. Tão encantadora como é a sua devoção ao seu clube. Silenciosamente fui até o carro e segui para casa. A observação desafiante e intrigante do guarda me perseguiu até abrir a porta e me estatelar no sofá, abri uma latinha de cerveja, não liguei a TV. Meti Elis Regina no vinil do meu prato e me parei a pensar na vida. Ok, sim, fiquei melancólico. Mas cacete, qual o problema de eu ter um colega de blogue que seja o Kenny? Nunca privei com ele nenhuma intimidade, mas era pessoa amável, culta, inteligente, gentil … falar com ele era uma delícia eis que literato, musical, emotivo, e loucamente apaixonado por tudo que cultuava. E de longe, acompanhei ele e nunca me pareceu se distanciar do que era. Mas que cacete faz com que as pessoas pensem que por tu seres azul ou vermelho te faz melhor ou pior?
A vida não se resume num Grenal. A não ser que a saudade de época mais pura me emburreceu?
As fraturas do jogador representem um pouco as fraturas da vida. Elas tem conserto, mas a cirurgia para o reparo parece mais fácil nos ossos que na alma.
Saudações!
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