A cada dia somos sacudidos com notícias e decisões que costumavam acontecer só de tempos em tempos. Tínhamos algum domínio do fio condutor das coisas, dava tempo para amadurecer, pesquisar, emitir opinião, arriscar previsões, com o tempo que tínhamos. Agora mudou, parece que o tempo “t”, variável tão importante para nós economistas nas nossas equações definindo modelos de comportamento e de previsão, deixou de ser uma variável para ela mesma ser um função. Caótica. O tempo de cada dia surge como função dos movimentos acelerados contínuos que nos sacodem de todo lado. Agora são várias sacudidas por dia, deste nosso rincão e de toda parte do mundo. O movimento passou a ser caótico, e a situação toda se fez crise.
Como mexer com números como antes? A manchete de segunda feira sacode: governo estadual vai firmar decreto com corte de R$ 4 bilhões no orçamento. De onde? Enquanto Legislativo e Judiciário receberem em dia, exigindo a cada pouco mais URVs no contracheque, não há de onde tirar do Executivo. Já basta a vergonha gaúcha de pagar os salários do Executivo em parcelas diárias que nada cobrem, nem conta de luz nem impostos devidos. Os que recebem míseros salários parcelados são os que cuidam de necessidades concretas como saúde, educação, segurança, creche, contas a pagar, tudo o que é essencial, diário, inadiável. O tempo, nesses casos, não é o tempo político. É o tempo da vida que segue no compasso do relógio, dia, noite, dia, noite. Mas deixamos que isso acontecesse. E se deixamos chegar nesse ponto, cada qual deve fazer sua avaliação.
O certo é que não precisava ser assim. Se é, os líderes dessa cultura local que assumam a responsabilidade. Pois o Legislativo e o Judiciário têm tratado o orçamento público como uma coisa sua, e sobre esse orçamento lançaram de 2011 a 2014 aumentos impossíveis de serem pagos, além de impedirem mudanças (reformas) inadiáveis frente a um mundo em ebulição. Feito está feito. É sempre hora de reconhecer o que deve ser enfrentado, de que modo as consequências de decisões políticas possam ser repartidas para evitar, enquanto é tempo, um retrocesso civilizatório que viria com a quebra da harmonia entre poderes e entre cidadãos, com suas ricas identidades e diferenças.
Vejo tantos pintados para a guerra, como se ela fosse inevitável – não é – ou resolvesse o que a nossa sociedade vem sofrendo crescentemente, desde que a ideologia da “luta de classes” veio para justificar a roubalheira que empobrece e extenua o tecido social. Claro, ainda é tempo neste 2016 para que se definam os consensos necessários para aproveitar todo o potencial desta rica nação. Que este “t” se concretize, trabalhamos e torcemos para isso.
1 Comment
Dilmar Fernandes Isidoro
11 de abril de 2016 at 10:46Prezada Colega Yeda Crusius!
Permita-me dizer que seu texto é excelente, na minha opinião. Parabenizo-te por este feito.
Cordialmente
Dilmar F. Isidoro
Economista e Colunista da Rede de Opinião.