Há cerca de dois séculos um médico (Philippe Pinel) rompeu as correntes que amarravam os ‘loucos’, mostrando que não eram criminosos, mas doentes. Mas só nas últimas décadas a Medicina alcançou avanços científicos capazes de, por meio de medicamentos, interromper o curso natural das doenças que, quase sempre, evoluíam para a cronificação e o retardamento mental.
Esses novos medicamentos reduziram a internação psiquiátrica a apenas duas situações: risco para a própria vida (suicídio) do paciente ou para a de outrem (homicídio). Aqueles que hoje adoecem dificilmente precisam ser internados e, quando o são, é por curtíssimo tempo (tanto que o SUS só paga 21 dias).
Fazer um movimento para tirar os ‘loucos’ dos hospitais é hoje como fazer um movimento contra a poluição da Maria-Fumaça. A evolução extinguiu o trem a carvão e não é preciso fazer lei para impedir sua construção.
Ficaram, no entanto, os sequelados, aqueles que tiveram a doença mental antes que se desenvolvessem drogas para curá-los (ou, ao menos, mantê-los sob controle ambulatorial, como um diabético). Esses são os chamados ‘crônicos ou asilares’, pessoas que não representam risco, mas não são capazes de cuidar de si mesmas.
O dito Movimento Antimanicominial deu aos asilares o ‘direito cidadão’ de serem expulsos de suas camas (quantos pularam de volta, para dentro, dos muros do São Pedro) e transformados em moradores de rua, ‘finalmente livres’!
O número de enfermos realmente diminuiu. Sem noção do que faziam, muitos foram atropelados. Outros sem agasalho ou comida, morreram de pneumonia ou tuberculose e entraram nas estatísticas como acidentes ou mortes por causa natural, não como assassinatos.
O preconceito contra o doente mental permanece. É permitido construir hospitais especializados em cardiologia ou pneumologia, mas não em psiquiatria. A velha e discriminatória Lei Antimanicominial ainda não foi abolida.
É imperativo que, em pleno século 21, possa-se dar ao doente mental os mesmos direitos que garantimos aos demais enfermos.
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