O inverno deste 2016 Rio Grande do Sul foi finalmente “normal”, com os La Niña e El Niño mais fracos. Com isso fez frio, muito frio, choveu menos, e a terra respondeu gostosamente como é de seu costume: as flores chegaram a mil em setembro. Mais um pouco, começam a se abrir as hortênsias em todo o caminho de Gramado e Canela, os flamboyants de todo canto, os tons de lilás das praças da Feira do Livro. Com as flores, as pessoas em Porto Alegre têm se flagrado mais alegres e comunicativas, menos sombrias, porque são inexoravelmente pressionadas pela fase escura dessa insegurança que nos afasta das ruas, que nos aponta sem escape para essa nova realidade de um país dividido. Uma parte realiza as tarefas “normais” como trabalhar, estudar, programar o futuro, investir nele, seguir músicas e buscar diversão. Mas cada vez mais assustada e menos nas ruas, tentando se proteger do “amigo do alheio”. A outra parte sai de seus becos quando bem entende, soltos e livres, a arrastar na mira da arma tudo o que lhes interessa e vêem pela frente, e que renda alguma coisa. Barbarizando.
Os resultados as estatísticas vão mostrando: queda no movimento de bares e restaurantes, lojas e cabeleireiras e… Não é apenas a inflação, mais a crise econômica e o desemprego, ou a notícia de que mais de 50 bilhões de reais sumiram dos fundos de aposentadoria para parar em negócios escusos e bolsos políticos para sustentar os “donos do poder” – não os velhos e sempre culpados capitalistas, mas os de um governo de esquerda. As estatísticas de baixo movimento nos negócios do dia-a-dia mostram sim esta outra face, a da melancolia e do mau-humor gerais, o modo como as pessoas de uma das partes do país dividido deixaram de sair, com exceção das idas aos parques, aos shoppings ou aos espetáculos com muita gente. Sim, muita gente, como se assim se protegessem.
Mas setembro chegou, e com ele um novo governo não mais provisório. Em todas as análises que leio há não certezas, mas expectativas de que é possível começar a religar esses dois mundos, essas duas partes, através da aplicação para todos de políticas públicas que responsabilizem, premiem e penalizem, conforme seja o caso de premiar ou punir. Passados o impeachment e as eleições, esperamos coragem e competência dos que querem levar os governos, o municipal e o federal, para o caminho da pacificação. Demora, mas é preciso começar. Coragem!
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