A anunciada reforma do ensino médio começou com um grande erro de comunicação. E quando isso acontece, no âmbito do debate nacional, é um péssimo início. Isso porque a educação é um tema multifacetado, plural, abrangente, que envolve todos os setores da sociedade. Diz respeito à nação inteira. Portanto, qualquer mudança que se queira fazer precisa ser construída da forma dialogada, transparente, consistente e assertiva.
Porém, mesmo com esse erro estratégico, que ninguém se engane: o modelo educacional brasileiro precisa ser reformado quase que integralmente. A começar pelo papel do professor, que foi relegado a uma categoria secundária no mercado de trabalho, especialmente em relação aos seus salários. A profissão que estava no sonho de muitos jovens migrou para um sacerdócio – em que se manteve a vocação, mas desapareceu um reconhecimento proporcional à sua importância. E isso é muito pouco.
Mas não foi apenas a inatividade dos governos que paralisou a educação. Muitas vezes, o sindicalismo prestou um serviço de militância partidária no lugar de envolver-se mais amiúde na busca de alternativas capazes de melhorar a situação. Não é por outro motivo que essa cultura corporativa transformou o meandro educacional num dos setores mais arraigados e resistentes a qualquer mudança de fundo.
Não há, portanto, um círculo virtuoso de colaboração para melhorar a educação. Surgiram, evidentemente, diversas iniciativas bem sucedidas, seja na iniciativa privada, na área pública ou no terceiro setor. Todavia, elas são esparsas, não conversam entre si. O governo e o parlamento não conseguiram catalisar essas propostas em nome de uma profunda reforma da educação do país. Não há conexão social na área que mais precisa disso.
Não que tudo esteja dando errado. O aumento do acesso às universidades é um avanço que vem junto com a ascensão social das camadas mais pobres. Mas isso não é suficiente. Na verdade, começamos pelo final. O Brasil cuidou de ampliar o terceiro grau, mas descuidou de qualificar o ensino fundamental. E esse, hoje, é o nosso maior problema – o mais urgente de todos, acima inclusive do ensino médio.
Nossas crianças já chegam ao antigo segundo grau com grandes deficiências. As séries iniciais, muitas vezes, não conseguem capacitar nossas crianças com ferramentais básicos para que, quiçá, ele possa tomar uma decisão sobre o que deseja, pessoal e profissionalmente, quando chegar ao ensino médio. Ora, muitas vezes os alunos chegam nesse momento sem sequer construir uma frase compreensível ou sem fazer operações básicas de matemática. Quanto menos terão segurança para pensar em seu futuro. Um indivíduo precisa ser cuidado desde a primeira infância, pois a atenção ou a desatenção a esse período gera repercussão até a vida adulta.
A proposta apresentada pelo atual governo em relação ao ensino médio já foi gestada outras vezes. Mesmo que tenha tido esse problema em seu lançamento, não pode ser simplesmente desprezada. Todos sabem que o desinteresse e a falta de foco desse período não têm produzido bons resultados na vida dos alunos. Precisamos recuperar o papel do ensino profissionalizante, encaminhando jovens para o mercado de trabalho, o que muda significativamente sua vida como cidadão. Ter um emprego permitirá, inclusive, que um indivíduo adulto venha a custear seus estudos superiores, se assim desejar.
Defendo que se comece a reforma da educação pelo começo – ensino fundamental. Mas uma dinâmica não deve obstruir a outra. A educação brasileira precisa ser repensada integralmente, a começar, como citei no início, pela valorização do professor. E pensar mais no aluno e no resultado da aprendizagem. A maior, mais verdadeira e mais perene mudança de um país, em relação ao futuro, começa por aqui.
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