Entra ano, sai ano e a realidade não muda para a mulher brasileira nas estatísticas da violência. Aliás, piora. Fiz questão de escrever este artigo no dia 31, porque é nele que se encerra a campanha “Agosto Lilás“, de conscientização e combate à violência de gênero, já em 12ª edição.
As campanhas estão na rua, temos uma legislação celebrada no mundo inteiro, a Lei Maria da Penha, e no calendário existem sete dias dedicados nacional e/ou internacionalmente à luta contra a violência e a exploração e abuso sexual da mulher. E, no entanto, nunca morremos tanto.
Sempre digo, e reitero: o Brasil da violência trata muito mal seu povo, em especial seus jovens e suas mulheres. Em 2016 houve no país um estupro coletivo a cada 2 horas e meia – um aumento de 124% nos últimos 5 anos – , com Acre, Tocantins e Distrito Federal liderando o ranking. Por aqui se mata uma mulher a cada 90 minutos, somos o 5º país que mais assassina mulheres no mundo, e nesse quesito os campeões são Espírito Santo e Bahia.
Se a legislação existe, é efetiva, e os números da violência não param de crescer é porque alguma coisa está faltando e a meu ver, faltam duas, no que deveria ser um tripé no combate para redução do feminicídio e demais crimes de gênero. As punições previstas na lei precisam ser mais severas, hoje um crime de latrocínio recebe pena maior do que o assassinato em função de gênero, o que é inaceitável. Nenhum bem material vale mais do que a vida. O acolhimento às vítimas de violência doméstica deve ser mais eficiente, porque são elas que morrem normalmente pelas mãos de seus parceiros, ou ex companheiros. Não basta registrar a agressão se elas voltam para casa, no mesmo ambiente da agressão.
Por último, o mais importante: é preciso investir na formação dos homens e mulheres do futuro. Incluir na grade escolar das redes municipal, estadual e federal de ensino a disciplina de igualdade de gênero e combate à violência contra a mulher. Transformar a maneira como os homens enxergam as mulheres é essencial, e isso só vai mudar se for trabalhada a cultura da violência desde a infância, ensinando-se o que é a cultura da paz.
Há outras violências que sofremos no cotidiano, tais como: salários 30% menores para mulheres que exercem o mesmo cargo que um homem. Todas sabemos que as brasileiras estudam mais e ganham menos, mesmo havendo aumentado a atuação como chefes de família. Também não vou desistir de destacar que, no Brasil, metade das mulheres que engravidam perdem o emprego até dois anos após a licença-maternidade. Justamente quando mais precisam de estabilidade.
Vou focar na questão econômica, porque pesquisa realizada pela Universidade Federal do Ceará divulgou que a violência contra a mulher gera prejuízo de cerca de R$ 1 bilhão ao país. Dizem que o bolso é a parte mais sensível, quem sabe a mais razoável do corpo humano, então mostrar o quanto custa essa violência pode despertar consciências.
É hora de mudar de uma vez por todas, sem contemplação, a forma como o Brasil enxerga e trata suas mulheres, para que no futuro não sejam necessários tantos dias no calendário, nem um mês inteiro dedicado a combater a violência contra elas. A igualdade, quando existe, não precisa de datas comemorativas. Apenas é.
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