No Brasil de 2016, cinco em cada dez brasileiros não frequentaram a escola além do ensino fundamental, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – Pnad Contínua, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, no apagar das luzes de 2017, em 21 de dezembro. Traduzindo: 51% da população de 25 anos possuía ensino fundamental ou equivalente, contra 26,3% com ensino médio e 15,3%, o superior completo. Simples assim. Um retrato em branco e preto do que o ex-presidente Lula, ao deixar o Planalto, elegeu como seu maior legado, durante a inauguração das obras no campus da UFSM – Universidade Federal de Santa Maria.
Educação e igualdade social caminham juntas, como demonstram enfaticamente vários estudos, divulgados quase que simultaneamente aqui e no exterior, que afirmam que a desigualdade de renda não caiu no Brasil durante as administrações petistas. Hoje fica mais fácil entender o porquê.
“A única forma de combater a intolerância é a educação”, afirma o educador palestino Aziz Abu Sarah. Já estudo do economista Sergei Soares, ex-presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – Ipea, defende que a educação pública universal é mais eficiente no combate à desigualdade do que o programa Bolsa Família. Referências importantes para quem, como eu, defende a educação como meio de transformação social há décadas – tanto como professora e acadêmica, quanto como política. Considero a década perdida pelos governos anteriores – que hoje se sabe que nada investiram em educação -, uma das maiores tragédias que os brasileiros foram condenados a enfrentar.
Despreparada, toda uma geração luta hoje contra o desemprego, por falta de qualificação para voos maiores. Em um dos países mais desiguais do mundo, senão o mais desigual, segundo o economista francês Thomas Piketty, a educação é esperança de muitos, para romper o ciclo da miséria e ascender a uma vida digna.
No resgate ao tempo perdido, iniciativas como o Projeto de Lei 6580/16, relatado por mim, de autoria do deputado tucano Pedro Cunha Lima, já aprovado na Comissão de Tributação e Finanças da Câmara dos Deputados, que destinará 30% dos recursos arrecadados pela Receita Federal para escolas públicas da rede fundamental (educação infantil, ensinos fundamental e médio). Essa matéria, a médio e longo prazo, vai colocar no mercado de trabalho uma nova leva de brasileirinhos muito mais preparada, apta a conseguir empregos melhores e uma vida digna.
Como tudo está interligado, educação e combate à violência conversam entre si. Motivo suficiente para investir na transmissão do conhecimento, como demonstra a 28ª edição do relatório mundial da ONG Human Rights Watch, divulgado nesta quinta-feira (18/01). Nele, é possível constatar que a crescente violência doméstica – em 2016, 4.657 mulheres foram assassinadas – e as mortes cometidas por policiais são problemas crônicos no Brasil. Há mais de um ano a HRW alerta que é preciso repensar a política de combate ao tráfico de drogas no país, um dos grandes fomentadores da guerra que enfrentamos nas ruas.
Aziz Abu Sarah, gosta de dizer que “a educação tem o poder de quebrar barreiras”. No país polarizado, empobrecido e violento em que vivemos hoje, é exatamente isso o que precisamos: ensinar nossas crianças a pensar; educa-las, para que barreiras e limitações sejam rompidas.
* Presidente Nacional do PSDB-Mulher, Yeda Crusius é economista e deputada federal pelo PSDB-RS em seu quarto mandato. Já ocupou os cargos de Ministra do Planejamento e Governadora do Rio Grande do Sul.
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