Novo espetáculo marca a abertura oficial da 23ª edição do Porto Verão Alegre 

Novo espetáculo marca a abertura oficial da 23ª edição do Porto Verão Alegre 

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Novo espetáculo dirigido por Luciano Alabarse, com atuação de Marcelo Ádams e Margarida Peixoto, O inverno do nosso descontentamento – Nosso Ricardo III, marca a abertura oficial da 23ª edição do Porto Verão Alegre e terá sessões de 13 a 16 de janeiro, às 21h no teatro CHC Santa Casa. Ingressos à venda.

 A palavra “nosso” no título do espetáculo frisa a liberdade com a qual lidamos com o material histórico-mítico fornecido por Shakespeare, tornando uma tragédia criada no século 16 em um urro indignado sobre o século 21. Fundamental, a montagem, além de reverenciar William Shakespeare em um de seus textos mais conhecidos, Ricardo III, celebra também vinte anos do Teatro ao Quadrado e marca a volta de Luciano Alabarse como diretor teatral – ele assina a direção da obra que conta com as atuações luxuosas de Marcelo Ádams e Margarida Peixoto. As apresentações serão todas presenciais depois de um longo e difícil período de isolamento social.

“O inverno do nosso descontentamento renova minha relação de entusiasmo com o ofício da direção teatral. Projeto discutido com Marcelo Ádams e Margarida Peixoto sem pressa, todos nós imersos nas incertezas da pandemia, aproveitamos o tempo de resguardo para amadurecer as metas da montagem, inclusive a principal delas: retomar nosso trabalho apenas em condições presenciais”, revela Alabarse.

“A satisfação que temos de criar um novo espetáculo ombreia com a de poder reencontrar o público presencialmente. Nesses quase dois anos de pandemia – o tempo de afastamento desse contato irreprodutível em qualquer plataforma virtual –, sentimos o peso desse tempo quase sem esperanças. Entretanto, e nisso acreditamos intensamente, o trem da História, após percorrer terrenos pantanosos, passa sobre planícies abertas, perspectivadas, nas quais ao olharmos à volta pressentimos a chegada de ventos mais propícios à vida, às vidas” comemoram Ádams e Peixoto.

As imprecisões desse período geraram, paradoxalmente, um precioso tempo de estudo e de conversas sobre a peça, tanto que, ao iniciarem os ensaios, os profissionais conheciam profundamente as complexidades e os desafios do texto construído nos meses preparatórios.

O Ricardo da montagem é o vilão shakespeariano, mas não só. Como ele mesmo avisa, retrata em si, e para além de si, os tiranos genocidas de todos os séculos. Essa é a deixa para falar dos Ricardos que o sucederam. Não há truques nessas transformações do personagem. Mudanças de corpo, voz e figurinos fazem a narrativa fluir e avançar. À frente do público, prescindindo o uso de ferramentas tecnológicas, a estrutura dramatúrgica, complexa e interessantíssima, levou à escolha de uma artesania teatral simples e surpreendente.

“Nós, envolvidos com a prática cênica, comemoramos a cada ano a permanência de artistas que fazem do Teatro uma das razões de suas vidas, empregando seu tempo e sua ética para produzir arte, para tratar do mundo em que vivemos, ou para sonhar com um que seja diferente. A Cia Teatro ao Quadrado, que fundamos despretensiosamente há 20 anos, completa duas décadas de criações neste 2022, ano decisivo para a História de nosso Brasil: mostrou-se imprescindível entrar novamente em cena com um novo espetáculo” declaram Marcelo Ádams e Margarida Peixoto.

A cumplicidade para um resultado teatral satisfatório pede confiança e cumplicidade. E é exatamente este o caso. Alabarse, Marcelo Ádams e Margarida Peixoto já trabalharam muitas vezes juntos. São parceiros de espetáculos e sonhos. São mais que colegas, são amigos.

“Margarida e Marcelo são amorosos e confiáveis, amam o teatro, encaram novos desafios e responsabilidades de peito aberto. Gosto do nosso jeito de chegar ao resultado adequado ao que estamos fazendo, um ouvindo o outro, sem sofismas”, confessa o diretor.

Tratadas individualmente, cada uma como um universo em si mesmo, a partir de rubricas iniciais genéricas, as cenas foram se imantando de forma surpreendente. Trechos de outras peças de Shakespeare se impuseram, discussões e leituras sobre o teatro de Bertolt Brecht, Heiner Muller e Angélica Liddell – fontes de inspiração e estudos que guiaram as escolhas (a fragmentação épica de cenas que se sucedem rapidamente, a desconstrução de obras clássicas da literatura ocidental, a ferocidade da linguagem cênica), citações presidenciais e fatos da política brasileira, tudo foi passando por depuração e contribuições pessoais – até chegar à uma dramaturgia adequada ao propósito. O texto final é fruto dessas escolhas. Segundo Alabarse, todo o grupo é autor e coautor do resultado final.

O cenário, objetos cirúrgicos e hospitalares jogados em um lixão aleatório, não é por acaso. Reforçam de maneira brutal todas as doenças, físicas e psíquicas, do personagem. O mundo está doente. Pestes e epidemias dizimam sociedades enquanto líderes políticos agem sem escrúpulos para manter seus poderes.

“O Inverno do Nosso Descontentamento, que inaugura a celebração dos vinte anos do Teatro ao Quadrado, nos representa nesses meses tão decisivos para o futuro do Brasil. Isso não é pouco”, avalia Alabarse.

 

O inverno do nosso descontentamento – Nosso Ricardo III é o espetáculo de número 13 que a Cia Teatro ao Quadrado realiza. “Longe de nos fazer temer um mau augúrio, desperta nossa perspectiva de que, com esse décimo terceiro, falamos de coisas que consideramos fundamentais nas reflexões a serem feitas sobre o que é ser brasileira ou brasileiro nesta Terra Brasilis. Partimos da personagem Ricardo, que de alguma forma sintetiza inúmeros outros homens – ditadores, governantes, empresários – que utilizam seu poder – econômico, político, social – em prol da destruição, do extermínio e do apagamento das diferenças. Lado a lado com Ricardo, símbolo do poder tóxico humano, temos outro símbolo: o Coronel, que representa o “pelego” sobre o qual Ricardo limpa seus pés ensanguentados”, explicam Marcelo Ádams e Margarida Peixoto.

CIA TEATRO AO QUADRADO

A Cia Teatro ao Quadrado tem como fundadores os artistas e professores de teatro Marcelo Ádams e Margarida Peixoto, e foi fundada em 2002, em Porto Alegre/RS. Nesses 20 anos de atividades, divididas entre a criação de espetáculos teatrais e as oficinas de atuação, produziu dezenas de trabalhos cênicos. Os espetáculos da Cia Teatro ao Quadrado receberam vários prêmios nos âmbitos municipal, estadual e federal, como o Açorianos de Teatro, o Myriam Muniz/Funarte, o Petrobras/Circulação Nacional, o Prêmio de Montagem do Teatro de Arena/RS e o Fumproarte/Porto Alegre. Entre os trabalhos da companhia estão Os homens do triângulo rosa (2014), Artimanhas de Scapino (2012), A lição (2010), Mães & Sogras (2010), O médico à força (2008), Burgueses pequenos (2006), Goela abaixo ou Por que tu não bebes? (2005), Sofá, uma comédia picante (2005), Escola de mulheres (2004) e A secreta obscenidade de cada dia (2002).

 

Marcelo Ádams é ator, diretor teatral, dramaturgo, professor de Teatro da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul e Doutor em Teatro pela UDESC. Como ator, participou de dezenas de produções em teatro, cinema e teledramaturgia – dentre elas, trabalhos em espetáculos como Os homens do triângulo rosa (2014), pelo qual recebeu o Prêmio Braskem de Melhor Ator; A vertigem dos animais antes do abate (2014); Artimanhas de Scapino (2012); A lição (2010); Édipo e O médico à força (2008), pelos quais recebeu o Prêmio Açorianos de Melhor Ator; Hamlet (2006); O homem e a mancha (2006), pelo qual recebeu o Prêmio Açorianos de Melhor Ator; Goela abaixo ou Por que tu não bebes? (2005); A ronda do lobo- 1826 (2002) e As núpcias de Teodora- 1874 (2000). Atuou em filmes como Os senhores da guerra (2014), Quase um tango (2009) e Noite de São João (2003).

 

Margarida Peixoto é atriz, diretora teatral e professora de Teatro. Como atriz, atuou em muitas produções em teatro, cinema e teledramaturgia, dentre as quais estão espetáculos como Mães & Sogras (2010); Bodas de sangue (2010); Platão dois em um (2009); Burgueses pequenos (2007); Hamlet (2006), pelo qual recebeu o Prêmio Açorianos de Melhor Atriz Coadjuvante; Locomoc e Millipilli (2005) pelo qual recebeu o Prêmio Tibicuera de Melhor Atriz Coadjuvante; Goela abaixo ou Por que tu não bebes? (2005); As traças da paixão (1999); Beladormecida (1995); Romeu e Julieta (1993) e Vida de cachorro (1993). Atuou em filmes como Quase um tango (2009), Saneamento básico, o filme (2007) e O homem que copiava (2003).

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