Especialistas da Dasa apontam como a obesidade leva ao quadro de insuficiência cardíaca
No Dia Nacional da Insuficiência Cardíaca, médicos e pesquisadores voltam os olhos para um dos possíveis motores por trás da sobrecarga cardíaca no Brasil: a obesidade. O excesso de peso está diretamente relacionado a um tipo específico de insuficiência cardíaca: a Insuficiência Cardíaca com Fração de Ejeção Preservada (ICFEp).
Essa condição ocorre quando o coração ainda consegue bombear o sangue normalmente, mas apresenta dificuldade para relaxar e se encher de forma adequada, comprometendo a circulação. A relação entre obesidade e ICFEp foi aprofundada em uma revisão de literatura publicada na plataforma científica Dasa Educa, assinada pelos médicos Marcelo Imbroinise Bittencourt, consultor em cardiogenética da Dasa Genômica, e Carlos Eduardo Suaide Silva, cardiologista do Alta Diagnósticos1.
Os sintomas mais comuns incluem cansaço, falta de ar e inchaço – muitas vezes confundidos com os próprios efeitos da obesidade. Segundo dados do DataSUS, apenas entre janeiro e abril de 2025, o Brasil registrou 65.533 internações por insuficiência cardíaca, um aumento de 2,43% em relação ao mesmo período de 2024. As regiões Norte (+5,16%), Sudeste (+3,56%) e Nordeste (+2,81%) puxaram o crescimento, refletindo um sinal de alerta para o que está gerando esse impacto na saúde cardíaca da população.
O especialista Marcelo Imbroinise Bittencourt explica como a obesidade afeta o coração. Ele relata que a obesidade obriga o coração a trabalhar mais intensamente. O corpo com excesso de gordura precisa de mais sangue e, isso gera uma sobrecarga para o coração. Também provoca um espessamento e enrijecimento do músculo cardíaco, dificultando seu relaxamento.
“O excesso de gordura corporal remodela o coração e seu funcionamento, tornando-o menos eficiente e mais rígido”, explica o Dr. Marcelo Imbroinise Bittencourt, “É um cenário complexo onde a sobrecarga hemodinâmica, a inflamação crônica e as disfunções metabólicas se entrelaçam, criando um ambiente propício para a progressão da ICFEp.”
Esse aumento, à primeira vista modesto, ganha maior relevância quando comparado à escalada da obesidade no país. De acordo com o Atlas Mundial da Obesidade 2025, 31% da população adulta brasileira já vive com obesidade, enquanto outros 37% apresentam sobrepeso. Isso significa que quase 7 em cada 10 brasileiros estão acima do peso ideal. Um cenário que reforça a urgência de ações preventivas e políticas públicas voltadas à saúde e à qualidade de vida.
Três efeitos principais da obesidade sobre o coração:
– Inflamação crônica: A presença da obesidade ativa substâncias inflamatórias que atingem diretamente o coração, dificultando seu funcionamento.
– Alterações hormonais e metabólicas: A resistência à insulina, comum em pessoas obesas, acelera os batimentos cardíacos e aumenta a retenção de líquidos.
– Perda de massa muscular: Em alguns casos, ocorre a chamada obesidade sarcopênica, que enfraquece o corpo e piora o prognóstico da ICFEp.
Diagnóstico exige olhar atento
Identificar a ICFEp em pessoas com obesidade não é tarefa simples. “Biomarcadores clássicos podem não se comportar da mesma forma em pacientes obesos”, alerta o Dr. Bittencourt. “Precisamos de ferramentas avançadas como o ecocardiograma com strain e a ressonância magnética cardíaca para revelar disfunções ocultas.” “O tratamento da ICFEp em pacientes obesos exige uma visão integrada, onde a perda de peso se torna uma terapia fundamental. Ela alivia a carga sobre o coração, modula a inflamação sistêmica e melhora a função diastólica”, destaca Dr. Carlos Eduardo Suaide Silva. As abordagens terapêuticas mais indicadas incluem:
– Mudança de hábitos: Alimentação equilibrada e exercícios físicos supervisionados.
– Medicamentos inovadores: Os inibidores de SGLT2, como empagliflozina e dapagliflozina, antes usados no tratamento do diabetes, agora são recomendados mesmo para pacientes sem diabetes, por reduzirem internações por insuficiência cardíaca.
– Apoio farmacológico para perda de peso: Medicamentos como semaglutida e liraglutida, agonistas do GLP-1, ajudam na perda de peso e melhoram a saúde cardíaca.
– Cirurgia bariátrica: Em casos graves de obesidade, a redução cirúrgica do estômago pode ser uma opção eficaz para controlar a ICFEp e melhorar a qualidade de vida.