Há algum tempo viralizou na internet a postagem de uma mulher jovem e bonita que, subitamente, despe-se completamente e passa a correr por um parque em Porto Alegre.
Depois desse, outros episódios ocorreram sem lógica ou explicação. Seria um protesto? Uma chamada para campanha publicitária? Silêncio!
Soube-se depois que, decorridos três meses do episódio, a jovem havia se matado. Quem sabe uma ajuda alcançada a tempo tivesse evitado esse desfecho.
O índice de suicídio em nosso meio é muito grande, assim como o de doenças mentais como um todo. Muitos, por não terem sido internados e tratados a tempo, acabam perdendo suas vidas. Ou mesmo desgraçando a vida de familiares, destruindo sua própria auto-estima, dignidade e felicidade.
Em fevereiro deste ano, recebemos de um familiar de paciente a denúncia de que, na emergência em saúde mental do Pronto Atendimento Cruzeiro do Sul (conhecido como Postão da Vila dos Comerciários), zona sul da Capital, onde existem 14 camas, 24 pacientes estavam internados. Fomos ao local fazer uma vistoria e constatamos (e fotografamos) que o piso do serviço havia sido loteado.
Pedaços de papel estavam colados nas paredes com o nome de cada um dos pacientes sem leito e um cobertor enrolado abaixo, demarcando, no chão, que espaço corresponderia àquele enfermo dormir. Direto no piso. Não há como tergiversar. A prefeitura de Porto Alegre, que administra o Postão, espezinha os direitos humanos de seus cidadãos. Ofende a dignidade das pessoas. Desrespeita o direito sagrado de cada indivíduo de ser tratado como gente.
Decorrida uma semana, vistoriamos a emergência de saúde mental do Pronto Atendimento da Vila IAPI (PAM 4). Logo ao chegarmos, a encarregada informou que tinha ordens de impedir a entrada do Sindicato Médico. E tinham mesmo o que esconder.
A vereadora Fernanda Melchionna que, sendo detentora de mandato popular não pode ser impedida nem pelo prefeito José Fortunati nem pelo Grupo Mãe de Deus (que administra o local), abriu as portas evidenciando que numa área para 15 pacientes estavam 27!
O mais cruel de todo esse quadro é que, há mais de um ano, existem pelo menos 40 leitos psiquiátricos do SUS desocupados no Hospital Parque Belém.
Cansei de ver, por todo interior do Estado, hospitais que não estavam servindo adequadamente a população sofrerem intervenção, determinada por prefeitos corajosos e preocupados com seus munícipes. E em Porto Alegre, o que se faz? Levamos este grave problema à OAB gaúcha, que se prontificou a nos acompanhar, caso se mantenha a inércia municipal, para levar a denúncia à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA).
Oxalá não seja necessário.
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