Assim ela mesma se chama. Tetra porque é tetraplégica, devido ao acidente de carro que sofreu em 1994. Quando ela fala nas nossas frequentemente conturbadas reuniões da bancada do PSDB na Câmara Federal, espontaneamente todos param para ouvi-la, com sua voz suave, como que fraca. Não por outra razão senão pelos seus argumentos, sempre carregados de uma delicadeza ímpar, mas extremamente fortes no seu conteúdo, nas expressões singulares que usa pela emotividade. Nada de retórica, tudo de pessoa.
Para os que dela se lembram na época em que como vereadora em São Paulo denunciou o esquema de corrupção ligado ao assassinato do prefeito Celso Daniel, do PT, quem a mim mesma havia dito dias antes de sua morte que “o que acontece tem que parar”. Eu não sabia a que ele se referia, mas logo depois se soube. Muitos assassinatos. Esquemas que se repetiam em outras administrações do partido. A ORCRIM se desenvolvendo, como mostrou o Mensalão e, hoje, a Lava Jato e o Petrolão. E ela, filha de empresário de transportes, enfrentando o terror, denunciando com documentos, com relatos vividos, o esquema. Está tudo registrado, YouTube, Wikipédia, documentos oficiais. Para quem tiver interesse, é farta a documentação para pesquisa.
Quando alguns parentes de São Paulo me perguntaram em 2014 se eu tinha sugestão de nomes para federal eu, mesmo sem conhecê-la pessoalmente, disse a eles que seria o melhor voto. Quando a conheci no começo do ano, ela me relatou e tive a gratíssima surpresa de saber que ela é sim muito amiga de sobrinhas minhas. Por elas soube o que ela conta na entrevista: gosta da vida, de sol, de caipirinha, de namoro, normal. Tudo faz com que ela seja realmente especial. Busca poder ganhar cada movimento considerado perdido, tanto que se submeteu agora a um mês de tratamento experimental, e está muito feliz porque está avançando, e pode continuar avançando.
Mas interessa o hoje. Hoje ela é uma parlamentar ativa na defesa das causas ligadas às minorias como ela e quaisquer outras, à educação, à defesa das organizações sociais que carregam o apoio e o atendimento aos portadores de deficiência. Sou testemunha. Foi indicada e estamos apoiando fortemente o nome dela para ser uma das 18 pessoas que ocuparão uma cadeira na ONU para monitorar a convenção que trata dos direitos das pessoas com deficiência em todo o mundo. Orgulhará o Brasil. Por isso apreciei tanto a entrevista. Com o título “Estou Envergonhada”, Mara é a entrevistada das Páginas Amarelas da Veja desta semana. Embora não seja sonora, para que pudéssemos curtir o que lemos na sua suave voz, lá ela inteira, corajosa, para que todos que não convivem com ela pessoalmente possa compartilhar a alegria e o futuro que ela transmite. Podendo, não percam. Vale.
* Yeda Crusius é economista e deputada federal pelo PSDB/RS em seu quarto mandato. Já ocupou os cargos de Ministra do Planejamento e Governadora do RS.
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